quarta-feira, 31 de março de 2010

Perguntar não ofende, mas...

Walter escreveu hoje de madrugada o segundo post da série "Perguntar não ofende". É verdade, perguntar não ofende mesmo, mas, como afirma um dos mais lúcidos pensadores da atualidade, o doutor Gregory House: "I get to ask the questions. I’ve found you look a lot smarter asking the questions than dumbly not answering" [De TB or not TB, Temporada 02, episódio 04].

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As universidades de Lula em MG


O texto abaixo é trecho da matéria publicada no jornal Estado de Minas de 28/03/2010, onde os interessados poderão lê-la integralmente. Título original: Universidades federais mineiras criam cursos que nem sala têm. – Walter Dos Santos
por Glória Tupinambás, do Estado de Minas



Aula à distância no curso de Engenharia da UFMG e computadores sem  monitor na UFOP - ( Fotos de Marcos Michelin e Renato Weil/EM/D.A Press)
Aula à distância no curso de Engenharia da UFMG 
e computadores sem monitor na UFOP

Estudantes que se aventuram em novos cursos de graduação criados recentemente pelas universidades federais encontram um cenário preocupante em Minas: faltam salas de aula, professores, material de ensino, laboratórios de pesquisa e, principalmente, respeito aos alunos. Nesse território dos “sem-sala” está


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Perguntar não ofende... (2)

Foi somente eu que, ao ler o texto PM embarcou em Osasco no ônibus dos professores; é um P2, conseguiu enxergar um quê de teoria da conspiração no meio da história?  

Quanto tempo e conveniência levaram para descobrir que a paulada no rosto da policial foi uma armação orquestrada pelo governador Serra para desqualificar os grevistas pacíficos do Sindicato dos Professores de SP?  

Por que está virando comum a ânsia esquerdista de repetir mantras como "Não sei de nada!", "Não é assim como a imprensa golpista está relatando!" e "Não é exatamente o que você está vendo nas imagens!"?  

Por que os sindicalistas estão tão preocupados em encontrar uma versão alternativa para o acontecido?  

Foi também fogo amigo orquestrado pelo Serra e Yeda a pancadaria dada por manifestantes contra Mário Covas pelo mesmo sindicato há 10 anos em outra greve de professores?  

Se a PM não tivesse divulgado a nota contra o mito do professor heroi, os sindicalistas buscariam descobrir o autor da paulada ou o tempo de internação da policial?  

Quando a Bebel da grande-família-sindical-petista declarou "vamos quebrar a espinha do governador", ela falou de forma literal ou simbólica, fez uma ameaça ou uma brincadeira?  

Por que é mais fácil culpar o solo inteiro em vez de reconhecer o joio, usando a Navalha de Occam?
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Uma interpretação é uma interpretação é uma interpretação



Ainda a respeito da já tão comentada foto da policial sendo carregada em manifestação da APEOESP, o colega de blog Walter disse em "Com barbas e imagens se desfazem as ideologias":

"Mas esses fatos, imagens, evidências estão em silêncio; eles não falam. Somos nós que damos significado a eles. As interpretações que fazemos resultam de nossas pressuposições pessoais, de nossa visão de mundo, de nosso histórico pessoal."

Em "Perguntar não ofende", Walter dissera:

"Segundo você, a foto em questão não retrata 'covardia e truculência' pelo fato de não sabemos o bastante sobre ela. Você está errado. A única informação que não temos sobre ela, segundo diversos blogues políticos e sites de notícias, é APENAS o nome do policial à paisana. Sabemos o contexto da greve em que foi tirada, o clima de selvageria e bandidagem promovido pelos sindicalistas, o ato agressivo da paulada no rosto e o nome da policial ferida pelos manifestantes. Diante disso, por que a foto não esbanja "covardia e truculência"?"

Vão me chamar de pseudo-filósofo, mas daí deduzo que eu estava errado porque tenho minhas pressuposições pessoais, minha visão de mundo e meu histórico pessoal.

"Quando nasci, veio um anjo safado
Um chato dum querubim
Que decretou que eu tava predestinado
A ser errado assim
Já de saída minha estrada entortou
Mas vou até o fim"

De toda forma, seguem algumas informações sobre a emblemática imagem, que tantas interpretações e interpretações das interpretações tem gerado.


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terça-feira, 30 de março de 2010

Primeira campanha do blog

Segundo as informações que Walter nos traz, sempre dos meios de comunicação mais isentos, o MST é massa de manobra. Os professores são massa de manobra. Fica uma pergunta: alguns dos nossos colaboradores conhece alguém, algum grupo ou instituição que, mesmo não rezando pelo credo de Zero Hora e de Reinaldo Azevedo, seja independente?

Vale um ovo de páscoa!

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Zero Hora: “O MST é massa de manobra”

A entrevista abaixo foi publicada originalmente no jornal gaúcho Zero Hora de 28/03/2010 (e postada no Filosofia Cirúrgica). Ela aponta a criminalidade envolvida nos atos do MST, a extrema articulação entre os movimentos sociais e as estruturas de poder no Brasil e o cerceamento ao pensamento não esquerdista em nosso país. – Walter Dos Santos

No Abril Vermelho do ano passado, mês em que os movimentos sociais fazem protestos pela reforma agrária, os líderes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) contabilizaram como sua primeira vitória o isolamento político do procurador de Justiça do Ministério Público do Estado Gilberto Thums, 55 anos. O procurador ficou conhecido como “o homem que tentou criminalizar os movimentos sociais”.

O estigma foi por ter proposto a ilegalidade do MST e ter exigido

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Entenda a greve dos professores em SP (3)

O texto abaixo foi publicado na coluna História em Imagens, de Augusto Nunes, de 29/03/2010, com o título A versão feminina de José Dirceu. – Walter Dos Santos
Na temporada grevista de 2000, o deputado federal José Dirceu, presidente nacional do PT, decidiu que as imunidades parlamentares se estendiam ao Código Penal ─ e fuzilou com o ímpeto que faltou ao guerrilheiro de araque o artigo 286: “Incitar, publicamente, a prática de crime”. Foi o que fez ao afirmar que os adversários tucanos “têm de apanhar nas ruas e nas urnas” (veja o vídeo 1). Dias depois, o governador Mário Covas foi acuado e agredido por professores grevistas acampados na Praça da República, em São Paulo.

Vídeo 1 – Entendendo a greve do Sindicato dos Professores, com José Dirceu!

Em 2010, como comprova o mesmo vídeo, a história começa a se repetir. Em outra manifestação nas imediações do Palácio dos Bandeirantes, Maria Izabel Noronha, presidente do sindicato dos professores estaduais, incitou a platéia a transformar em alvo o governador José Serra. “Nós estamos aqui para quebrar a espinha dorsal desse partido e desse governador”, gritou a companheira Bebel.

O segundo vídeo mostra o que aconteceu a Covas ─ e poderá acontecer a Serra caso os manifestantes tomem ao pé da letra a palavra-de-ordem da dirigente. A lei prescreve a pena de três a seis meses, ou multa, para quem incide no crime de incitação ao crime. Veja as cenas e responda: Dirceu merecia ou não a curta temporada na cadeia? E Bebel? Merece ou não merece?

Vídeo 2 – Covas e os professores

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Com barbas e imagens se (des)fazem as ideologias

por Walter Dos Santos*


Conta a lenda que, há cerca de um século, o papa decidiu que todos os judeus deviam deixar Roma. Vendo, porém, o alvoroço na comunidade judaica e querendo dar a impressão de que era conciliador, teve uma nova ideia. Ele faria um debate com qualquer judeu que a comunidade judaica escolhesse. Se essa pessoa vencesse o debate, os judeus poderiam ficar. Mas se o papa vencesse, eles teriam que ir embora.

Como todos os judeus eruditos e poderosos se recusaram a enfrentar o Golias cristão, a comunidade escolheu um velho zelador chamado Moishe. Embora muito preocupado com suas reduzidas qualidades de oratória, Moishe concordou em debater, mas com uma condição: que o evento acontecesse em total silêncio. Por incrível que pareça, o papa concordou.

Quando o grande dia chegou, Moishe e o papa sentaram-se frente a frente. Por um longo minuto, ficaram se observando silenciosamente e imóveis. Finalmente, o papa ergueu a mão e mostrou três dedos. Moishe o encarou e ergueu um dedo.


A seguir, o papa fez um círculo ao redor de sua cabeça com o dedo. Moishe apontou firmemente para o chão onde estava sentado. O papa, então, pegou uma hóstia (pão da comunhão) e um cálice de vinho e colocou-os sobre a mesa. Moishe puxou uma maçã e a colocou à sua frente. A essa altura, o papa se levantou e disse: “Eu desisto. Esse homem é muito bom. Os judeus podem ficar.”

Após o debate, os cardeais se reuniram ao redor do papa, perguntando o que acontecera. O papa disse: “Primeiro, eu levantei três dedos para representar a Trindade. Ele respondeu segurando apenas um dedo para me lembrar que há apenas um Deus, comum às nossas religiões. Então, com o dedo, fiz um círculo sobre minha cabeça para mostrar que Deus estava ao nosso redor. Ele respondeu apontando para o chão, mostrando que Deus também estava bem ali, conosco. Peguei o vinho e a hóstia para mostrar que Deus perdoa os nossos pecados. Ele pegou uma maçã para me lembrar que todos partilhamos do pecado original. Ele tinha uma reposta para cada coisa. O que eu poderia fazer?”

Enquanto isso, a comunidade judaica se amontoou ao redor de Moishe, espantada com o fato de que o velho e inculto zelador fora capaz de fazer o que todos os eruditos achavam impossível. “O que aconteceu?” perguntavam. “Bem”, disse Moishe, “primeiro, ele levantou três dedos para me dizer que os judeus tinham três dias para sair de Roma. Eu levantei um dedo para dizer-lhe que nenhum de nós sairia. Então, fazendo um círculo sobre sua cabeça, disse-me que essa cidade santa ficaria limpa dos judeus. Eu apontei um dedo para o chão para que ele soubesse que nós ficaríamos exatamente aqui.”

− E daí? – perguntou uma senhora.

− Eu não sei − disse Moishe. – Ele pegou o lanche dele e eu peguei o meu.




Lembrei-me dessa história ao ler os comentários e postagens dos meus colegas do Caos à Política. É incrível como uma foto sem muitos elementos que a ancoram à realidade provoquem tanta contradição interpretativa. A imagem em si do fotógrafo Clayton de Souza, da Agência Estado, traz pouca informação referencial. No centro da foto temos uma garota vestida com farda policial, carregada nos braços por um jovem barbado, de traços ocidentais e roupas modernas. Ao fundo, encontramos uma fumaça esvoaçante que permite entrever algumas pessoas aglomeradas e outras, mais nítidas, com os mesmos trajes da garota. Nada mais do que isso.

Um estrangeiro ou um desinformado poderia ler ali apenas um casal apaixonado ou bons amigos no meio de um manifestação recente qualquer. O contexto rebate essa possível significação idealista, mas não avança nos detalhes. Trata-se da manifestação do Sindicato dos Professores da rede estadual de São Paulo na sexta-feira 26 de março, na capital paulista.

Contudo, blogues e sites ligados ou simpáticos ao petismo, à esquerda e aos movimentos sociais logo apontaram a imagem como um símbolo da solidariedade humana e, por extensão, dos movimentos sociais contra a truculência das forças do governador paulista José Serra.



Um caso emblemático foi o site do jornalista Paulo Henrique Amorim, com o sugestivo título: "Leandro: professor carrega policial ferido. O mundo bizarro de José Serra". Justiça seja feita, experiências também partilhadas por este blog, tanto em momento de silêncio de Rodrigo Cerqueira, quanto em homenagem prestada por Renato Rezende.


O jovem barbado seria um professor paulista da rede estadual, uma espécie de novo heroi urbano a defender não apenas os sindicalistas reprimidos pela política neoliberal. Como convém a todo campeão da justiça e do bem, seu código moral seria tão benevolente a ponto de socorrer mesmo um agente do seu pior inimigo, ferido na batalha contra o maligno presidenciável. Traços como juventude, ligada à renovação, e a luta política, associada ao idealismo, encaixavam-se perfeitamente com o arquétipo dos heróis antigos e modernos ainda presente nas mentes contemporâneas.


Mas como bem disse um de meus colegas blogueiros aqui no Caos à Política, a alegria durou muito pouco. Em questão de horas, a Polícia Militar de São Paulo divulgou nota anunciando que o jovem era um policial vestido à paisana. A informação caiu como uma bomba sobre o novo mito construído. Não era a revelação de uma fraqueza do personagem, tal qual um calcanhar vulnerável ou um meteorito alienígena radioativo. De novo heroi esquerdista alçado à glória em vida, o jovem barbado passou a ser tachado como um feiticeiro encantado a enganar os mocinhos socialistas, um tipo de metamorfo que conseguiu penetrar a fortaleza da justiça do Sindicato dos Professores paulistas. Clark Kent na verdade era Lex Luthor; He-Man, o Esqueleto; Hiro, o Sylar!


A descoberta foi tão aterradora e medonha que o site do Paulo Henrique Amorim não corrigiu a informação, o colega Ricardo Cerqueira continua no silêncio e o meu amigo Renato Rezende apenas comentou a loucura do inusitado.


Como o mendigo disfarçado não era o Ulisses homérico, os deuses de nossa odisseia esquerdista votaram-se contra o jovem barbado. Um agente escuso infiltrado no exército de resistência ao neoliberalismo, um espião vil do malévolo presidenciável José Serra, um emblema da maquiavélica polícia militar paulista, mais um caso conhecido de pessoas que incitam pacíficos manifestantes à violência contra as forças policiais... Uma arma odiosa das elites, burguesia e neoliberais reunidos em conchavo para jogar a opinião pública contra os movimentos sociais!

Numa discussão sobre a leitura das imagens, precisamos ressaltar a atitude pitoresca dos inconformados com a revelação diante de um elemento mínimo da foto: a barba do rapaz, por sinal curta, natural e rústica. Antes ela era marca da atitude revolucionária do jovem fotografado: a cicatriz reveladora do heroi andarilho. Não o grego aristocrata, mas o argentino socialista. Agora os comentários presentes em vários sites e blogues questionam essa mesma insígnia: a estranha existência de um policial usando barba. Mais misterioso, porém, é o fato de nossa esquerda escocesa, entre um copo e outro de uísque 12 anos, ter esquecido a elementar noção do crescimento dos pelos faciais num jovem adulto.

A mesma moral da lenda do papa e o judeu Moishe cabe à imagem do fotógrafo Clayton de Souza, da Agência Estado. Podemos estar olhando para os mesmos fatos, as mesmas imagens, as mesmas evidências. Mas esses fatos, imagens, evidências estão em silêncio; eles não falam. Somos nós que damos significado a eles. As interpretações que fazemos resultam de nossas pressuposições pessoais, de nossa visão de mundo, de nosso histórico pessoal. Com barbas e imagens se fazem e se desfazem as ideologias.

Mudou a foto? Não. Ela continua tal como antes. Mudou o conhecimento factual sobre ela ou mudou a conveniência política que a interpretava? A resposta é sim para as duas opções, pois os chineses estavam errados: uma imagem não vale mais que mil palavras. Dependendo da cotação na bolsa ideológica, ela vale tanto quanto pesa ao discurso desejado: tudo ou nada.

*Walter Dos Santos, jornalista e doutorando em Literatura Francesa pela Usp, mantém o 
Portal Escrivão Caminha
e colabora no blog Caos à Política. A reprodução desse artigo é livremente autorizada desde que seja mantido este crédito.



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Mídia e Pesquisas: inquiestações, esclarecimentos

Ando matutando bastante sobre o meu post "Mídia e Pesquisas: garantindo as aparências?". Estou insatisfeito com ele, mas por enquanto deixa ele aí, no meio da multidão.

Em todo caso, pensei que ficou necessário esclarecer uns pontos. Estava pensando ali principalmente no tipo de abordagem sobre a imprensa que ocorre no senso comum, nas disputas partidárias mais cegas e no que às vezes vem fazendo Paulo Henrique Amorim em seu blog. O post de Renato pra mim faz observações pertinentes, além de ser saboroso.

E percebi que minha posição está muito imatura, embora nesse tema é que eu devesse ter menos inaptidão. Vai entender...

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segunda-feira, 29 de março de 2010

Sem ofensas

Após a tréplica de Walter, acredito que já deixamos claras nossas posições sobre o assunto. Seguir respondendo seria transformar a discussão em algo infrutífero, e talvez intragável.

Adiante, então, e sem ofensas.

"É essencial à liberdade existir somente em ato, no movimento sempre imperfeito que nos junta aos outros, às coisas do mundo, às nossas tarefas, misturadas aos acasos de nossa situação."
Merleau-Ponty, em Humanismo e Terror

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Metendo o bedelho onde não fui chamado

Como esse é espaço público de discussões, não me sinto mal em meter o bedelho na conversa entre Walter e Felipe. Muito pelo contrário, fico bastante feliz que o debate esteja dando o que falar, a despeito do tempo preciso que me tem consumido. Mas vamos ao que interessa:

1. Na pergunta de Walter, assim como na resposta de Felipe, há, quando não uma defesa, ao menos uma aceitação da presença de um policial disfarçado entre os manifestantes. A mim essa revelação me causou, antes de tudo, uma estranheza. Como Walter bem elencou, um policial disfarçado tem algumas atribuições "conduzir investigações, levantar informações e antecipar-se a conflitos e ataques" – todas elas visando desbaratar alguma organização criminosa, não? Aí vem a pergunta: uma manifestação de professores é uma organização criminosa? A resposta positiva a essa pergunta, como parece ser a de Walter e a de Reinaldo Azevedo, dão bem a idéia do que significa a criminalização dos movimentos populares. O tratamento que as chamadas "forças da ordem" lhes conferem passa por um a priori – são organizações marginais, daí a necessidade de policiais infiltrados –, que, me parece claro como água, vai se refletir na maneira como os manifestantes vão ser tratados pelo policiais na linha de frente. Como bem exemplificou o capitão Nascimento para gozo de uma grande parcela da sociedade: marginal se trata é na base da pancada.

Ao que parece, ter um agente inflitrado na manifestação não é uma informação tão natural assim. A assessoria PM comunicou que o policial que socorreu a soldado ferida estava, quem diria, passando lá por mero acaso do destino. Há mais coisa aí ou eu que sou neurótico? (Link da matéria da Terra Magazine e do Blog Brasília, eu vi)

2. Na segunda pergunta o negócio fica, digamos, engraçado. Segundo Walter, infiltrar agentes nos movimentos de contestação é típico dos regimes de exceção. Nesse sentido, Walter, a PM de São Paulo, sob o comando de José Serra, está agindo como "os governos de Cuba, China, Coréia do Norte, Venezuela e ex-União Soviética para [identificar] opositores políticos"? Isso não deveria ser um motivo de crítica ao invés de uma aceitação natural?

Assim como Felipe, não sei como Walter passou do apoio às manifestações populares à adesão àqueles regimes de exceção. Muito pelo contrário, a defesa dessas manifestações significa, pelo menos no meu entender, o reconhecimento de toda e qualquer oposição a uma ditadura, não interessa com que mão ela escreva. E aqui vai uma provocação: a maneira brutal com a qual a PM comandada por Serra tem tratado as passeatas dos professores não difere em nada de como o regime castrista trata os dissidentes que vão às ruas protestar contra a ditadura cubana. Repressão violenta é repressão violenta, aqui ou lá.

E quando Walter pergunta, à la Reinado Azevedo, com caixa alta e tudo, "Por que um BANDIDO ARRUACEIRO estava na manifestação, e tão bem fantasiado de grevista?", suponho que ele esteja falando do manifestante que agrediu a soldado no rosto. Eu rebato a pergunta: como é que ele sabe que foi o manifestante quem agrediu a policial primeiro? E se ela o agrediu, e ele apenas se defendeu? Ao que eu saiba, ninguém deste blog estava lá e presenciou o ato. Não há como atribuir culpa por cada ato individual de violência. Pensei em escrever que, uma vez deflagrado o conflito não interessa, ao menos não para este argumento, quem o tenha começado , caberia a cada uma das partes, policiais e manifestantes, se defender como puder, mas não sei se isso está correto. Não podemos esquecer de que é a PM que detém o monopólio dos instrumentos de coerção – as chamadas armas de efeito moral –, por isso há uma grande disparidades entre as possibilidades de violência, que não pode ser simplesmente ignorada, sob o riscos de cairmos no casuísmo de um Reinaldo Azevedo: "MANIFESTANTES DE DILMA FEREM POLICIAIS EM SÃO PAULO". Isso sem contar que nossa polícia não conhecida pela sua gentileza britânica.

3. Não há como tomar parte da coisa, pois presenciei a cena que Felipe descreve...

4. É verdade, como aparenta a pergunta de Walter e a resposta de Felipe, que nenhum dos dois toma uma posição maniqueísta: quem participa dos movimentos sociais são "pessoas do bem" e as que discordam são "pessoas do mal", e vice-versa. Certo, enquanto as coisas ficarem num plano plano argumentativo, não tem mesmo como deificar ou satanizar ninguém. Mas quando a coisa vai pras ruas e descamba em violência, vou tomar um partido um tanto maniqueísta, sim: até que se prove o contrário – e quando isso for feito, posto aqui minhas desculpas –, a responsabilidade da violência durante as passeatas é da PM. Me explico: historicamente, é assim que qualquer mobilização popular é tratada, seja ela violenta ou não. Foi assim com os escravos fugidos, com a Conjuração Baiana, com a Revolta dos Malês só pra ficarmos com alguns que me são mais caros. Mas caso reste alguma dúvida, basta uma leitura de Os sertões para termos pintados em cores bem vivas como as forças republicanas trataram os habitantes de um vilarejo perdido no meio do nada. Ou será que Euclides da Cunha era petista?

5. Vou fugir um pouco da discussão lingüística que este tópico tomou – falsidade ou veracidade dos pressupostos, o que está dito ou silenciado nas entrelinhas – e tentar seguir noutro rumo. Primeiro, uma manifestação não pode ser resumida aos atos individuais de alguns manifestantes, do mesmo modo que a ignorância de alguns poucos marginais não torna a violência nos estádios culpa dos torcedores. Mas há ainda um outro ponto: um ato de agressão só é violento quando ele é manifestado de maneira física, quando alguém atira uma pedra, um ovo, quando um grupo invade uma reitoria ou uma propriedade? E um governador que se recusa a reconhecer a legitimidade de uma manifestação e as falhas de um sistema falido? Está agindo de maneira agressiva? E quando a especulação fundiária e a grilagem expulsam pequenos trabalhadores de suas terras? Isso é um ato de violência? Muitas vezes, o que julgamos excesso de agressividade nada mais é do que uma humilhação há muito recalcada. A questão, aqui, é do que é causa e o que é conseqüência.

6. De volta à manifestação, não sei quem atirou a primeira pedra. Walter e Felipe tampouco sabem. Contudo, ao contrário do que pensa Walter, assumo, porém, a hipótese, respaldada por anos de excessos das nossas "forças da ordem", de que foi a PM. Como diria Reinaldo Azevedo, simples assim.

Mas, neste tópico, são outros dois os pontos que mais me incomodam: primeiro, o de ignorar que o comportamento das massas não é racional. Movida pelas paixões, não precisa de muito para que as coisas degringolem, e qualquer agitador sabe disto, esteja ele a mando de quem estiver. (Recomendo a leitura de Massa e poder, de Elias Canetti, um pensador búlgaro, cujo incômodo intelectual estava em tentar entender porque o povo alemão aderiu a um regime como o nazismo.)

Segundo, o eterno retorno de Martin Luther King e Ganghi como exemplo de como se deve levar à frente um protesto. Não concordo com Felipe, não considero esse "o caminho [...] mais inteligente e correto". Antes de tudo, não vejo a Índia como um exemplo pra pensarmos quais devem ser os modelos de protesto. Numa sociedade tão hierarquizada quanto a indiana, no qual todas as pessoas têm seus papéis e lugares na sociedade bastante bem demarcados, o conflito nunca está no horizonte de possibilidade de reivindicação. Quanto a Luther King, tomar seu idealismo na defesa da igualdade racial como o ponto alto da defesa da igualdade racial é ignorar o papel fundamental de outros movimentos, os Panteras Negras, por exemplo, mais radicais e mais capazes de fazer andar as engrenagens de uma sociedade tão conservadora como a americana.

Não podemos nos esquecer de que ambos forma assassinados: onde é que está mesmo a paz deste processo? Por que ela tem que ser unilateral? Por que só os mártires conseguem um lugar no imaginário canônico de como os movimentos sociais devem ser? A que interesses esse imaginário atende? O das classes subalternas é que não é. Disto tenho certeza.

7. Aqui, novamente, a leitura que Walter faz da foto incorre na cegueira segundo a qual o contexto de selvageria captado pela foto nada mais é do que um instantâneo do "clima de selvageria e [de] bandidagem promovido pelos sindicalistas, [do] ato agressivo da paulada no rosto [...] da policial ferida pelos manifestantes". Não vou voltar ao assunto já repetido até demais: enquanto não tivermos certeza de quem começou a violência, enquanto estivermos no plano da especulação, cada um com seus preconceitos: violenta, segundo dados das comunidades internacionais, é nossa PM. Mas há algo que Walter deixou passar. É verdade, a foto revela o contexto em que foi tirada: o da barbárie. Mas onde estão os vândalos? Não podemos vê-los, porque todo o pano de fundo é encoberto pela fumaça das armas de efeito moral da polícia, que, até onde eu saiba, é a única que possui o gás lacrimogêneo que serve de moldura para um primeiro plano que não perdeu sua força. A foto esbanja, sim, "covardia e violência". Covardia e violência daqueles que monopolizaram a violência por tanto tempo e agora querem sair de vítimas da história.

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