domingo, 2 de maio de 2010

O Globo: Dilma ainda procura seu espaço na campanha

Publicado originalmente no jornal O Globo de 2/5/2010 (via blog do Noblat). – Walter Dos Santos
Cercada de assessores e aliados, ela pouco tem tido voz ativa na condução da pré-campanha; Lula é esperado

De Maria Lima e Gerson Camarotti, de O Globo:

Dilma tem que sorrir mais, tem que afinar a voz, tem que se vestir assim. Dilma não pode viajar a tal lugar, tem que ser mais afirmativa, menos arrogante, tem que apoiar tal candidato.

A ex-gerentona do governo Lula já fez de tudo, dançou fado português, cantou “El día que me quieras” em programa popular de TV, mas, para os “experts” em campanhas políticas, ainda não encontrou um rumo que dê segurança aos aliados. E está ainda procurando seu espaço próprio na campanha.

Dilma passa a maior parte do tempo cercada por assessores de tudo: de imprensa, internet, imagem, comunicação, voz. Sem autonomia, não sabe o rumo das negociações de palanques nos estados ou mesmo o que está sendo agendado de viagem.

Diante de tantos comentários, opiniões e críticas, a pré-candidata petista tem se mostrado mais insegura e solitária. Segundo interlocutores da ex-ministra, isso tem feito com que ela mostre
fraco desempenho público na primeira fase da campanha.

Também há críticas de conteúdo. Aliados externam preocupação com táticas erráticas e que Dilma precisa sinalizar para o futuro, não só comparar gestões passadas.

Por esses relatos, Dilma chega a ter dúvidas até mesmo de que roupa vestir. Quase sempre, está inadequada, segundo críticas do marqueteiro Duda Mendonça, que fez a campanha de Lula.

Na quinta-feira, estava de roxo num evento agropecuário no interior de São Paulo. Já na semana anterior estava com braços e axilas à mostra numa entrevista na TV.

— Ela está aprendendo. São observações naturais que fazem sobre a Dilma. Foi contratado “media training”. Todos fazem isso. Até o Lula e o Serra. Ninguém ficou descaracterizado. Por que a Dilma ficaria? — reage o líder do governo na Câmara, deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP), da coordenação de campanha petista.

Para petistas mais próximos, é um risco o que estão fazendo com Dilma: primeiro descaracterizaram a ex-ministra, que tinha um estilo próprio. E agora ela não se enquadra no figurino novo. Alguns reconhecem que há risco de ela começar a campanha em julho sem ter ajustado o discurso, em forma e conteúdo.

— Podiam reclamar, mas Dilma era uma ministra com personalidade forte. Agora, perdeu a identidade e está à procura de outra mais leve. Espero que encontre logo — desabafou um integrante da Executiva Nacional do PT.

A insegurança é evidenciada pela candidata quando, por exemplo, é questionada em entrevistas sobre ações corriqueiras.

Dia desses, perguntada que dia seria a convenção nacional do PT, respondeu: “A coordenação ainda vai decidir”. Os aliados, como o vice-líder do PR, Luciano Castro (RR), que integra o conselho politico da campanha, dizem que nessa fase Dilma tem mesmo que obedecer. Mandar, só depois de eleita.

— O Conselho decide e comunica a ela. Depois de eleita ela pode fazer o que quiser. Mandar ela sabe — diz Castro.

Quem visita o seu escritório de campanha, num bairro nobre de Brasília, tem visto a ex-ministra solitária, sem participação nas decisões da campanha.

As alianças ficaram a cargo de sua coordenação política. Ou seja, diferentemente do seu tempo de Casa Civil, quando Dilma mandava e desmandava, agora, ela influi pouco.

— Campanha eleitoral é igual a jogo de futebol. Tem um milhão de técnicos e cada um dá pitaco — reconhece um integrante da campanha de Dilma.

Há o reconhecimento do presidente Lula, feito internamente, de que o rumo da campanha não está correto e que será preciso fazer ajustes em toda a campanha.

Há pressão para que Lula esteja mais presente e, se possível, assuma o comando da campanha, mesmo que informalmente.

Lula pôs como seu representante na coordenação da campanha o deputado e ex-ministro Antonio Palocci. Mas Dilma tem resistido aos conselhos de Palocci. Cada vez mais Lula manda recado.

Depois das convenções partidárias, em junho, Lula deve entrar com tudo na campanha. Mesmo assim, os petistas estão temerosos com a presença de Lula no palanque. Isso porque todas as vezes em que ele discursou ao lado de Dilma ofuscou a candidata.
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