segunda-feira, 28 de junho de 2010

Ainda a união civil

Recentemente, como era esperado, todos os principais candidatos a presidente se declararam a favor da união civil de pessoas do mesmo sexo. A diferença de Marina é que, por sua religião, ela condena o casamento entre homossexuais, enquanto os outros dois tendem a deixar para cada religião decidir sobre o tema. O meu post sobre esse assunto recebeu uma resposta indireta de Walter, então gostaria de explicitar melhor minha posição.
 
É claro que o Estado não deve se imiscuir em crenças religiosas, a não ser que atentem contra direitos humanos. Como só entra na religião quem quer, as igrejas têm direito de dizer que uniões considera válido sacramentar.
 
Mas a questão não é, obviamente, essa. Se um candidato, por conta de crenças religiosas, considera mais digno de sacramento certo tipo de união, aquela entre homens e mulheres, ele está, sim, lançando uma condenação moral àqueles casais que fogem à regra. O sexo entre homem e mulher, para constituir família, é aceito, sob a bênção do sacerdote. Não importa se você é um cafajeste, corrupto, mentiroso, a heterossexualidade te dá o direito de ter sua união reconhecida. Você é acolhido na comunidade. As portas do céu estão lá, abertas. Agora, seja você, não digo um santo, mas um sujeito legal, sincero, solidário, ou sei lá, uma pessoa mais ou menos boa, e homossexual, então dane-se – literalmente, dane-se. A comunidade não te aceitará dessa forma. Se disfarce. Minta pra pertencer. Mude. Seu encontro com o capeta está, do contrário, praticamente garantido.
 
Quando eu fiz referência ao “a César o que é de César” (pensei que não fosse necessário explicitar) quis dizer que, no caso de Marina, a união civil entre pessoas do mesmo sexo era aceita como coisa do mundo terreno, com suas regras e características próprias, do carnal, da corrupção, da perdição, do desespero. É justo reconhecer como é justo pagar o imposto de renda, ainda que a ordem das coisas no mundo esteja infinitamente distante do reino dos céus. Enquanto o casamento é da ordem do divino, da lei superior, do espírito, do caminho da vida, da salvação, da esperança…
 
Como se sentem pessoas que apenas querem ficar com quem gostam, ou mesmo se comportar sexualmente da forma que desejarem, diante dessas legiões de sacerdotes tachando de pecaminoso um modo de vida que lhes parece mais natural, ou desejável, e que não prejudica a ninguém? Não é só algo incômodo, como essas orquestras de vuvuzelas, é uma tortura lenta, cruel. Eu que não vou considerar isso aceitável, já tenho outras culpas.
 
Marina é uma pessoa com uma grande trajetória, e está anos luz à frente do nível de nossos agentes políticos. Eu acho válido, contudo, que qualquer cidadão que ache as crenças de um político, inclusive as religiosas, de alguma forma discriminatórias, possa dizê-lo e levar isso em conta nas suas escolhas.
 
De qualquer forma, aquele post era mais para fazer ressalvas à ideia de que, admitindo a diferença com os movimentos pela liberdade sexual, Marina entrava num patamar superior de moralidade em relação aos demais candidatos, que prefeririam esconder-se sob disfarces.
 
E abaixo a caixa-alta!

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quarta-feira, 23 de junho de 2010

Mellão: Somos das elites, sim!

Publicada originalmente no blog do jornalista João Mellão Neto em 18/06/201. – Walter Dos Santos
Se você se formou em alguma faculdade; se você, por acaso, aprendeu mais de um idioma; se você é um profissional liberal bem-sucedido ou ocupa um cargo elevado na empresa em que trabalha, cuidado. Esconda os seus diplomas no armário, jamais torne a usar os seus ternos sob medida e trate de comprar um carro velho ou popular. Demonstrar mérito ou ostentar sinais de prosperidade, no Brasil, agora é pecado. Essas coisas significam que você faz parte das nossas pérfidas elites e, portanto, carrega consigo grande parte da culpa pela miséria em que vive razoável parcela da população.

É curioso. Eu nunca interpretei o termo elite por um ângulo pejorativo. Ao contrário. Elite, para mim, sempre significou os melhores dentre os melhores de cada área. Há a elite dos empresários, como existe a elite dos médicos, a dos políticos ou a dos advogados. Com exceção de parcela da elite econômica, cujo patrimônio veio por hereditariedade, ninguém vem a ser reconhecido como membro de alguma elite se não demonstrar mérito, talento e empenho pessoal. São todos pessoas de peso, merecedoras da admiração geral. Ou, pelo menos, era assim até a chegada da companheirada ao poder, há quase cinco anos.

Confesso que não me surpreendi com essa total inversão de valores. Quando cursava a faculdade, em meados dos anos 1970, um dos mitos mais caros do pensamento esquerdista era o que pregava que todas as mazelas do Brasil eram culpa exclusiva de suas execráveis elites. O povo em geral, os cidadãos humildes, era puro de alma, solidário por natureza e sempre pronto a empenhar o melhor de si em prol da coletividade. Mas ele não tinha chance de fazê-lo porque as elites, egoístas e gananciosas, não lhe davam oportunidade. É mais ou menos a forma como os marxistas tradicionais idealizavam a classe burguesa. Elimine-se a burguesia e os seus valores, e a sociedade, quase que naturalmente, se tornará justa, fraterna, cooperativa e voltada para o bem comum.

Quatro décadas depois, mesmo com a utopia comunista já devidamente sepultada, alguns cacoetes do pensamento esquerdista ainda remanescem. Um deles é este da dicotomia entre um povo bom e generoso e uma elite perversa e individualista.

Todo raciocínio simplista é eivado de contradições. Os companheiros ainda não se deram conta de que, uma vez no poder – e com amplo controle sobre o Congresso -, são eles, agora, a elite política do País. E elite não no sentido de mérito, como referido acima, mas, sim, pelo fato de que são eles a classe dominante da Nação.

Embora execre as elites, essa gente, paradoxalmente, faz parte delas há muito tempo. Desde o final dos anos 70, são eles, incontestavelmente, que compõe a elite sindical do proletariado deste país. Sempre ocupando cargos na diretoria dos sindicatos, boa parte desse pessoal nunca trabalhou, de fato, no chão das fábricas. Além disso, em função de seus postos na burocracia sindical, eles sempre perceberam vencimentos integrais e gozaram de estabilidade absoluta no emprego, algo que nem os mais renomados membros das demais elites jamais ousaram sonhar. Paladinos dos miseráveis, pobres, por sua vez, eles nunca foram. Com salários nunca menores que o equivalente a sete ou dez salários mínimos, todos eles sempre lograram possuir casa própria e automóvel, o que os classificaria, no mínimo, como classe média.

Por que, então, esse ódio às elites e a tudo o que elas representam? Note-se aqui que o designativo elite não vale apenas para o topo da pirâmide social, mas abrange, também, toda e qualquer pessoa que demonstre auferir rendimentos acima da média, tenha algum estudo e cultue hábitos minimamente refinados.

A contraditória “elite antielites” que nos governa não se dá conta de que, se Lula pode dar-se ao luxo de distribuir o Bolsa-Família a 11 milhões de famílias, isso só é possível graças aos escorchantes impostos que as nossas odiáveis “elites” recolhem ao Tesouro. A carga tributária que incide sobre a classe média é proporcionalmente muito maior do que a do resto da sociedade.

Os petistas que me perdoem, mas eu sempre tive e terei orgulho de fazer parte dessas elites que eles tanto condenam.

São essas elites que formam o sal da terra de toda e qualquer sociedade. São elas que produzem riquezas, criam valor e fazem a economia andar. Devemos a elas o fato de, graças a sua especialização, a sociedade poder oferecer serviços de qualidade em todas as áreas do conhecimento. São elas que, pelo hábito de ler livros e jornais, compõem a opinião pública de uma nação.

Se o presidente Lula não quis estudar (tempo ele teve para isso), é um problema exclusivamente dele. Mas que não venha a nós fazer proselitismo de sua insuficiência acadêmica. Que não tente, por seu exemplo pessoal, influenciar os nossos filhos no sentido de que a indigência cultural é uma virtude e que o pouco saber é uma ferramenta útil para preservar a pureza e as boas intenções das pessoas.

Paralelos de obscurantismo na História, nós só encontramos na Revolução Cultural chinesa, quando, a partir de 1964, Mao, em seus delírios, decidiu humilhar e “reeducar” todos os chineses que tinham um grau mínimo de instrução. O resultado, como era de esperar, foi desastroso. Após 14 anos, os mentores de tal “revolução” foram todos para a cadeia, Deng Xiao ping, com a inestimável ajuda dos antigos intelectuais, logrou reerguer a nação e a China, hoje, é o país que mais leva o ensino a sério e envia estudantes para aperfeiçoamento no exterior.

Somos elite, sim, sr. Lula com muito orgulho. Nós lutamos para chegar lá. Somos esforçados, esclarecidos e sobretudo, independentes. É por isso que nós sempre relutamos sufragar o seu nome. A nós nos repugna a ideia de alienar nossos votos a troco de uma mesada de alguns poucos reais.

Artigo publicado no jornal “O Estado de São Paulo” em setembro de 2007.
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Quão eficaz é o Bolsa Família? (4)

Publicada originalmente no jornal O Estado de São Paulo em 23/06/2010, com o título "35% dos brasileiros ainda não se alimentam o suficiente". – Walter Dos Santos
Jacqueline Farid, da Agência Estado

RIO - A fome zero ainda não é realidade no País, embora o acesso das famílias brasileiras à comida tenha aumentado significativamente em sete anos. Ainda que 35,5% das famílias vivam em situação de "insuficiência da quantidade de alimentos consumidos", segundo a POF 2008/2009, o porcentual é bem inferior ao apurado na pesquisa anterior, referente ao período 2002/2003, quando os alimentos eram insuficientes para 46,7% das famílias consultadas. No Norte, mais de 50% das famílias ainda não comem o que necessitam.

Segundo o levantamento, houve redução da fome em todas as regiões brasileiras. Os destaques ficaram com o Sudeste - onde os alimentos eram insuficientes para 43,4% das famílias em 2003, enquanto em 2009 essa situação baixou para 29,4% - e o Norte (de 63,9% para 51,5%).

Apesar de comerem mais, as famílias brasileiras ainda não conseguem escolher sempre os alimentos consumidos, também mostra a pesquisa. Apenas 35,2% delas consomem sempre os alimentos "do tipo preferido", enquanto 52% nem sempre conseguem comer o que querem. Outras 12,9% das famílias "raramente" consomem o tipo preferido de comida.
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Governo do PT é o que mais censura (5)

Publicado no blog do Reinaldo Azevedo em 19/06/2010 com o título GOVERNO LULA CENSURA PORTAL NA INTERNET QUE TRAZIAM DADOS DO PAÍS REAL, NÃO DAQUELE VENDIDO PELA PROPAGANDA". – Walter Dos Santos
O decálogo de problemas que segue abaixo poderia se um roteiro utilizado pelos candidatos de oposição José Serra (PSDB) ou Marina Silva (PV). Mas não é — ou NÃO ERA. Ribamar Oliveira, do jornal Valor Econômico, colheu essas avaliações num portal oficial, do próprio governo. Antes que prossiga, uma síntese:

1 - a política de reforma agrária do governo Lula não alterou a estrutura fundiária do país nem assegurou aos assentamentos assistência técnica, qualificação, infra-estrutura, crédito e educação;
2 - a qualidade dos assentamentos é baixa;
3 - os programas oficiais não elevam a renda dos agricultores, que ficam dependendo do Bolsa Família;
4 - imposições da legislação trabalhista no campo acabam provocando fluxo migratório para as cidades;
5 - a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) ainda não definiu uma política de curto ou médio prazo para a formação de um estoque estratégico e regulador de produtos agrícolas.
6 - em futuro próximo, a produção de biodiesel não será economicamente viável;
7 - a reconstrução de uma indústria nacional de defesa voltada para o mercado interno, prevista na Estratégia Nacional de Defesa, não se justifica;
8 - a educação brasileira avançou muito pouco e apresenta os mesmos índices de 2003 em várias áreas:
9 - é baixa a qualidade da educação em todos os níveis; os que concluem os cursos não têm o domínio dos conteúdos, e as comparações com indicadores internacionais mostram deficiências graves no Brasil;
10 - O analfabetismo funcional, entre jovens e adultos, está em 21% na PNAD de 2008, uma redução pequena com relação à PNAD de 2003, que era de 24,8%. O número absoluto de analfabetos reduziu-se, no mesmo período, de 14,8 para 14,2 milhões, o que aponta a manutenção do problema.

Essas informações todas estavam no “Portal do Planejamento”, criado pela Secretaria de Planejamento e Investimento Estratégico (SPI), tarefa que durou um ano e meio. E QUE SUMIU EM UM DIA. Bastaram uma ordem e um clique. É isto mesmo: o ministro Paulo Bernardo (Planejamento) mandou tirar o site do ar. Eram cerca de 3 mil páginas abordando 52 temas.

Bernardo justificou assim a censura em entrevista à rádio CBN:
“Vários ministros me ligaram para dizer: ‘Olha, estão fazendo críticas às políticas desenvolvidas pelo meu ministério, mas nós não fomos chamados a discutir’. Ficamos numa posição um pouco delicada de explicar que aquilo não era posição fechada do Planejamento; são técnicos fazendo debate.”

Entendo… o ministro convocou uma reunião para segunda-feira com os responsáveis pelo Portal:
“Me parece que um site para discutir políticas de governo deve ter um nível de acesso para quem é gestor, outro para quem é jornalista e outro para o público em geral”.
Deixe-me adivinhar como seria essa gradação e o produto oferecido a cada um:
- ao gestor, a verdade;
- ao jornalista, uma quase verdade;
- ao público, o de sempre…

Vamos compreender
É evidente que nenhum governo gosta de ser criticado pelo… próprio governo. Não me atrevo a dizer que este ou aquele não agiriam assim. Aliás, acho curioso que um portal dessa importância vá ao ar sem o conhecimento do chefe da pasta. A questão aí não é matéria de gosto, não.

O que o portal revela é que existem dois Brasis: aquele real, conhecido pelos técnicos do governo, que veio a público por um breve instante, e o outro, o de propaganda, este de novas auroras permanentemente anunciadas pelo governo, ancorado numa verba bilionária de propaganda.

Como se nota, Paulo Bernardo acha que é preciso trabalhar com “níveis” de acesso, como se aqueles informações não fossem dados sobre políticas públicas, mas matéria de “segurança nacional”. Informações relevantes, pois, para orientar tais políticas passariam a ser privilégio de uma espécie de casta.

Nunca antes na história destepaiz!!!
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domingo, 20 de junho de 2010

Quão eficaz é o Bolsa Família? (3)

Entrevista com o cientista político Michel Zaidan Filho, da Universidade Federal de Pernambuco. Vídeo publicado no Uol Notícias em 12/03/2008. – Walter Dos Santos

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quinta-feira, 17 de junho de 2010

Dossiês e PT – tudo a ver (4)

Publicado originalmente na Folha Online em 17/06/2010, com o título "Ex-delegado diz que sofreu ameaça de morte após revelar dossiê sobre Serra". – Walter Dos Santos
por NOELI MENEZES, de Brasília

O delegado aposentado da Polícia Federal Onézimo das Graças Sousa afirmou nesta quinta-feira que recebeu ameaça de morte após revelar que havia sido procurado por supostos emissários da pré-campanha de Dilma Rousseff (PT) para investigar o candidato tucano à Presidência, José Serra, e produzir dossiês sobre ele.

"Recebi um e-mail dizendo que eu ia me transformar em nome de parque. Na hora, não entendi. Depois me lembrei do prefeito Celso Daniel. Era uma ameaça de morte."

O ex-prefeito de Santo André Celso Daniel (PT) foi sequestrado e assassinado em 2002. Hoje, é nome de parque na cidade que administrou.

Onézimo disse, porém, que não ficou com medo da ameaça. "Tratei como uma chacota."

O delegado aposentado reafirmou, em depoimento à CCAI (Comissão de Controle das Atividades de Inteligência) do Congresso, que foi procurado para "levantar tudo sobre" o candidato tucano.

Questionado se a investigação envolvia monitoramento telefônico, respondeu: "Eu não sou onipresente. Para um bom entendedor, um pingo é letra. Como posso saber tudo sobre um pessoa?".

Segundo ele, o convite para a reunião lhe foi feito em nome do ex-prefeito Fernando Pimentel (PT-MG). Afirmou, no entanto, que foi recebido por três supostos emissários do petista: Amaury, Luiz Lanzetta --que era encarregado da área de imprensa da pré-campanha-- e Benedito de Oliveira Neto.

O advogado de Lanzetta, Antonio dos Santos Jr., afirmou que o depoimento do delegado foi "confuso e genérico". "O sr. Onézimo será acionado legalmente pelas inverdades que está dizendo."

O deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR) disse que o depoimento de Onézimo confirmou as informações já publicadas pela imprensa e acrescentou mais detalhes.

Fruet disse aguardar uma resposta do sargento da Aeronáutica Idalberto Martins, conhecido como Dadá, que também foi convidado para depor na CCAI. Dadá teria participado das reuniões para discutir a elaboração de dossiês.

De acordo com o deputado, a comissão vai pedir informações sobre o sargento à Aeronáutica.
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Dossiês e PT – tudo a ver (3)

Publicado originalmente no blog Coturno Noturno em 16/06/2010 com o título "República de bandidos." – Walter Dos Santos
Um "dossiê", na linguagem política, é um conjunto de"documentos" com acusações falsas contra os adversários ou com documentos oficiais obtidos de forma criminosa, que podem sugerir ilegalidades. Dilma Rousseff(PT), a responsável pelo Dossiê contra Serra, já que o mesmo saiu da coordenação da sua campanha, diz que ele não existe. Não existem "nenhum traço" dele. Sabem por quê? Porque os documentos apreendidos ou impedidos de serem veiculados não foram mostrados ao público. Não é uma graça? Ela gostaria que José Serra (PSDB) fizesse uma entrevista coletiva para mostrar as mentiras assacadas contra a sua filha? Que as declarações de Eduardo Jorge, vice do PSDB, fossem xerocadas e distribuídas para os presentes? Que o "banco de dados" e os pênis de borracha que ela coordenou contra FHC e Dona Ruth sejam motivo de CPI? No domingo, Lula disse que o Dossiê contra Serra, que estava sendo encomendado por coordenadores e financiadores da campanha da Dilma a arapongas, é uma iniciativa do PSDB. Dilma foi mais longe na mistificação. Parece que a candidata quer, se o Dossiê está pago, que ele seja divulgado. Ou não é um Dossiê. Estamos, realmente, vivendo em uma república de bandidos.
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Quão eficaz é o Bolsa Família? (2)

Publicado originalmente no jornal O Estado de São Paulo em 31/05/2010 com o título "Beneficiários do Bolsa-Família não superaram miséria". – Walter Dos Santos
por MARTA SALOMON - Agência Estado


Beneficiários do Bolsa-Família nas regiões Norte e Nordeste ainda não superaram, na média, a condição de pobreza extrema, na qual os membros da família recebem até R$ 70 por mês cada um, revela o mais recente perfil do programa de transferência de renda do governo, divulgado hoje.

O estudo mostra que as cerca de 7,5 milhões de famílias beneficiárias do Nordeste e do Norte têm renda média de R$ 65,29 e R$ 66,21, respectivamente, após o pagamento do benefício. A bolsa varia de R$ 22 a R$ 200, dependendo do grau de pobreza e do número de filhos da família.

"O valor do benefício, de R$ 95, em média, é pequeno, insuficiente para superar a pobreza", avalia Lúcia Modesto, secretária responsável pelo Bolsa-Família no Ministério do Desenvolvimento Social, insistindo em que o programa não tem por objetivo substituir outras fontes de renda das famílias.

O peso do benefício foi relevante no aumento da renda em todas as regiões do país, sobretudo no Norte e Nordeste, mostra o estudo. Em média, o benefício aumentou em quase a metade (48,74%) a renda por pessoa da família.

A ministra Márcia Lopes estima que mais de 2 milhões das 12,4 milhões de famílias que recebem o benefício ainda sejam consideradas

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Quando o Cara quebrou a cara (5): Lula no Wall Street Journal

Ainda sobre a política externa do governo Lula, segue abaixo tradução feita pelo blog do Reinaldo Azevedo para artigo do Wall Street Journal. O texto original "Lula's Dance With the Despots", publicado por Mary Anastasia O’Grady em 14/06/2010, pode ser lido na página web do diário americano.Walter Dos Santos


Título: “A dança de Lula com os déspotas”.

Desde que fomos expulsos do Éden, o Brasil sonha tornar-se um país sério e um protagonista no cenário mundial. Agora, quando este sonho eterno estava se tornando uma realidade, Lula consegue fazer de uma vitória uma derrota [is snatching defeat from the jaws of victory]. O Brasil pode estar ganhando algum respeito no front da economia e da política monetária, mas, quando se trata da liderança geopolítica, o presidente está fazendo um esforço adicional para preservar a imagem de um país ressentido, um cachorrinho ranheta do Terceiro Mundo [Third-World ankle-biter].

O mais recente exemplo de como o Brasil ainda não está pronto para figurar no horário nobre dos círculos internacionais se deu na semana passada, quando votou contra as sanções ao Irã no Conselho de Segurança da ONU. A Turquia foi a única parceira do Brasil neste constrangedor exercício. Mas a Turquia pode ao menos usar como desculpa suas raízes muçulmanas. Lula está levando a reputação do Brasil para o brejo [no Brasil, a gente diz assim; Mary prefere "areia"] só para a sua satisfação política pessoal.

O Brasil defendeu seu voto argumentando que “as sanções muito provavelmente levarão sofrimento ao povo do Irã e conduzirão o processo às mãos daqueles que, dos dois lados [da disputa], não querem que o diálogo prevaleça. É um argumento sem nada dentro. As sanções não têm como alvo os civis, mas as ambições nucleares do Irã e seu programa de mísseis. Quanto ao diálogo, é óbvio que, agora, o presidente Mahmoud Ahmadinejad precisa é de um pouco menos de conversa.

Se o Brasil considerou seu voto uma posição de princípio em defesa do que considera justo, é certo que mudou depressa. Depois de ter feito estardalhaço com as sanções, rapidamente anunciou que vai honrá-las. Isso sugere que pode ter avaliado a possibilidade de sair aos poucos de sua política externa lunática.

O Partido dos Trabalhadores de Lula é de esquerda, mas NÃO se deve confundi-lo [Lula] com um aplicado bolchevique. Ele é simplesmente um político esperto, que veio do povo ["das ruas", no texto de Mary] e ama o poder e o luxo [ela escolhe a metáfora "limousines"; no Brasil, só usadas pelas noivas...]. Como primeiro presidente brasileiro do Partido dos Trabalhadores, ele teve de equilibrar as coisas úteis que aprendeu sobre os mercados e as restrições monetárias com a ideologia de sua base de apoio.

Sua resposta para esse dilema tem sido usar a Ministério das Relações Exteriores — onde uma burocracia geneticamente tendente à esquerda é conduzida por Celso Amorim, um intelectual notoriamente antiamericano e anticapitalista — para lustrar suas credenciais esquerdistas. Essa amizade com os “não-alinhados” tem servido de justificativa para manter os ideólogos coletivistas fora da economia.

Mas a reputação do Brasil como um líder das economias emergentes sofreu enormemente. Para satisfazer a esquerda, Lula tem sido chamado a defender e exaltar os seus [da esquerda] heróis, que são alguns dos mais notórios violadores dos direitos humanos do planeta.

Uma análise de seus dois mandatos revela uma tendência para defender déspotas e desprezar democratas.

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Filosofia Cirúrgica: Auto-ajuda literalmente

Publicado no blog Filosofia Cirúrgica, por Márcio Leopoldo Maciel em 13/06/2010. – Walter Dos Santos
Uma grande editora brasileira acaba de anunciar a publicação de cinco grandes obras de políticos nacionalmente conhecidos. Os primeiros dois da lista são:

Mestrado e Doutorado em 1 click – Para ler e fazer no ônibus (Autor: Dilma Rousseff)

Uma obra essencial para incrementar sua formação. Nos moldes do grande sucesso do governo federal, o PAC, o livro apresenta soluções engenhosas para que você acelere seu crescimento profissional. De autoria da ministra do presidente Lula, Mestrado e Doutorado em 1 click apresenta o passo-a-passo de como dar um up em seu Lattes. A obra traz o depoimento pessoal da ministra.

Inimigos, meus melhores amigos (Autor: Lula)

Os bastidores do poder. Nesta vigorosa obra ditada o presidente da República conta como uma relação de inimizade se transformou em afeto e companherismo. Uma metáfora de futebol é o pontapé inicial para uma história de suspense. Sabia ou não sabia? Corrupção, lavagem de dinheiro, compra de votos, dinheiro não contabilizado… Por fim, a glória redentora do esporte prova que a amizade é o nosso maior patrimônio. Lula conta como, em um ou dois dribles, superou as divergências e pode celebrar a união com vultos da política nacional e internacional: ACM, Sarney, Collor, Malluf, Renan Calheiros, Ahmadinejad, Fidel e Raul Castro. Imperdível.
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Governo do PT é o que mais censura (4)

Publicada originalmente no portal Comunique-se.com, voltado para jornalistas, em 16/06/2010 com o título "Câmara avalia medidas contra programa CQC". – Walter Dos Santos
Da Redação

O presidente interino da Câmara dos Deputados, Marco Maia (PT-RS), afirmou nesta quarta-feira (16/06) que irá encomendar à área jurídica um estudo para avaliar medidas que poderão ser tomadas em relação ao programa CQC. Em quadro exibido na edição desta semana (14/06), uma jovem contratada pelo programa fez coleta de assinaturas de apoio a uma falsa Proposta de Emenda à Constituição.

Maia afirmou que a intenção é assegurar o direito dos deputados de não autorizar o uso de suas imagens ou entrevistas pelo programa. Porém, ressaltou que a medida não pode afetar a liberdade de imprensa.

De acordo com o deputado, o programa humorístico da Bandeirantes tem criado fatos e situações para constranger os parlamentares. No quadro em questão, a repórter Monica Iozzi entrevistou deputados que assinaram sem ler uma proposta que previa a inclusão da cachaça na cesta básica do brasileiro. Um dos entrevistados chegou a agredir Monica e sua equipe.


CQC 14/06/2010 Monica Iozzi é agredida por deputado em Brasília


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terça-feira, 15 de junho de 2010

Marcio Pochmann na Folha de 15/06/2010

Texto interessante do Márcio Pochmann na Folha de hoje. Faz tempo que não entro aqui no Caos. É que o trabalho não tem deixado mesmo.

Para onde vai São Paulo?

MARCIO POCHMANN


O esforço governamental para expansão e integração da infraestrutura urbana e social poderia estimular decisivamente a economia

A estabilidade monetária alcançada a partir do Plano Real, em 1994, abriu nova perspectiva para que o Estado de São Paulo voltasse a protagonizar novo ciclo de expansão econômica e social, já que respondia por quase 37% da população ocupada não pobre do país. Para isso, contudo, deveria impulsionar, em bases inovadoras, a sua estrutura produtiva, especialmente industrial, com a finalidade de potencializar o avanço das fontes contemporâneas de riqueza, cada vez mais presentes no interior do setor terciário da economia.

Esse processo de modernização constituiria peça fundamental na promoção e difusão do conhecimento, ou seja, a educação, as tecnologias de informação e comunicação e o trabalho imaterial como o esteio central da geração da riqueza e do bem-estar social.

Paralelamente, o esforço governamental voltado à expansão e integração da infraestrutura urbana e social poderia estimular decisivamente a economia de serviços para o crescente atendimento da demanda interna e externa. As decisões governamentais que poderiam operar como faróis a iluminar o futuro foram sendo transformadas em lanternas de freio a clarear o passado.

Pelas informações geradas pelo IBGE para a contabilidade dos Estados brasileiros, verifica-se o retrocesso paulista na fase recente da estabilidade monetária alcançada pelo país. O setor industrial paulista regrediu de 43% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional em 1996 para menos de 35% em 2007.

No mesmo sentido, o setor da construção civil teve sua participação relativa diminuída de 37% para 27% no mesmo período de tempo, assim como no caso do setor produtor e distribuidor de eletricidade e gás, de água e esgoto e de limpeza (de 45% para 27%); do comércio (de 41% para 33%); da administração pública (de 21% para 19%); e de serviços (de 35% para 34%).

Apesar dessas quedas relativas na participação econômica do Estado de São Paulo na produção nacional, percebe-se que houve crescimento do peso paulista em outros setores, não necessariamente estimulantes em termos da construção exitosa do seu futuro.

O setor da agropecuária ampliou sua participação de 8,6%, em 1996, para 11,7%, em 2007, e o de intermediação financeira teve ampliação de 49,9% para 51,4% no mesmo período de tempo. Mesmo reconhecendo a importância dos setores agropecuários e financeiros, sabe-se que eles não são suficientes para contribuir decisivamente na construção de uma sociedade superior.

O que se verifica, inclusive, são sinais de decadência, com a queda da importância relativa de São Paulo na economia nacional, de quase 36% em 1996 para 33% em 2007, e a queda da importância paulista no conjunto da população brasileira não pobre, de 37% para menos de 32%. Ademais, observa-se que as escolhas governamentais mais recentes apostam mais no passado do que no futuro.

Em geral, a trajetória do desenvolvimento capitalista tem sido a evolução da sociedade agrária para a sociedade urbano-industrial, e desta para a pós-industrial.

No caso paulista, entretanto, constata-se a sinalização de interrupção na passagem da sociedade industrial para o pós-industrial, com importante retorno ao velho agrarismo.

O setor agropecuário gera riqueza empregando cada vez menos mão de obra, enquanto a intermediação financeira opera com crescente tecnologia de informação poupadora de força de trabalho, o que compromete o futuro de inclusão e coesão social paulista.

MARCIO POCHMANN, economista, é presidente do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) e professor licenciado do Instituto de Economia e do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho da Unicamp. Foi secretário do Desenvolvimento, Trabalho e Solidariedade da Prefeitura de São Paulo (gestão Marta Suplicy).



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O que pode decidir as eleições?

Final de semestre, copa do mundo. Falta de tempo pra escrever, e, provavelmente, de disposição pra ler sobre política. Então nada de sair dissertando sobre o quanto pode ser simbólico o lançamento da candidatura de Serra num decadente clube de classe média em Salvador, dizem que sem nenhum negro no palanque. Nem dá pra comentar as últimas da história de um dossiê supostamente feito pela campanha de Dilma contra Serra – o mais concreto dela, por enquanto, é que há um livro do jornalista Amaury Ribeiro Júnior sobre as privatizações da era FHC, a ser lançado depois da copa.

Pra lá disso tudo, o que talvez realmente influencie essa campanha são os fenômenos econômicos que ocorreram durante o governo Lula, como mostra matéria da Folha, que fez boa entrevista com o economista Marcelo Neri, chefe do Centro de Pesquisas Sociais da FGV do Rio. Eis alguns dados:

- queda da desigualdade por sete anos consecutivos, fora um, e retomada da redução em ritmo mais acelerado este ano;

- 10% de redução de pobreza de abril de 2009 a abril de 2010;

- ascensão de 31,9 milhões de brasileiros às classes ABC;

- 20 milhões de pessoas saíram da pobreza em cinco anos;

- a diminuição da pobreza não se deve só ao Bolsa Família, mas também ao aumento do emprego formal, da renda do trabalho e à valorização do salário mínimo (de 1,4 a 2,2 cestas básicas):

“Para Lena Lavinas, especialista no assunto no Instituto de Economia da UFRJ, a pobreza no Brasil cai especialmente por conta da criação de vagas formais no mercado de trabalho.
‘Cerca de 90% dos novos empregos formais nos últimos anos pagam até três salários mínimos (R$ 1.530,00). Isso favorece diretamente os mais vulneráveis’, diz Lena.
Além de criar quase 13 milhões de empregos formais (de 28,7 milhões para 41,5 milhões), o governo Lula patrocinou um aumento real (acima da inflação) de 53,6% para o valor do salário mínimo.”

“Ademir Figueiredo, coordenador do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), afirma que a recuperação do salário mínimo ‘foi o grande ‘programa social’ de Lula’. "Pois ele tem impacto direto sobre o crescimento da renda familiar."

A história do dossiê é vaguíssima, e deve atingir muito mais a candidatura de Serra no segundo semestre. A política externa, ao contrário do que se pensa, tem apoio da opinião pública. Não parece haver condição política de derrubar a candidatura Dilma nos tribunais, seja pela aprovação de Lula, seja pela falta de base social da oposição (no discurso de Serra, isso virou “não tenho esquadrão de militantes pagos com dinheiro público”, ou algo assim), seja porque nesse campo os demo-tucanos tampouco têm ficha limpa.

Muito mais que isso, o bom momento econômico tende a ter um papel importante (veja no NPTO), e essa transformação social é atribuída principalmente ao governo Lula - em minha opinião, de forma justa. Não é lábia nem simbolismo, foram feitos reais, sentidos pela maioria.

Enfim, é a realidade social, estúpido.


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segunda-feira, 14 de junho de 2010

Os presidenciáveis no Twitter

Publicado no Portal Terra em 8/06/2010 com o título "Raio-X dos perfis de Serra, Dilma e Marina no Twitter" e escrito por Ivan Guevara e Ana Brambilla. Os gráficos foram extraídos do serviço Followers Wonk. – Walter Dos Santos
A presença dos pré-candidatos à Presidência da República em redes sociais como o Twitter tem se consolidado como um dos diferenciais desta Eleição. Que Serra twitta de madrugada e que as duas pré-candidatas tem assessores para mídias sociais já não é novidade. Mas a pergunta que fazemos é: o que mais pode estar por trás dos tweets dos presidenciáveis-twitteiros?

Com a ajuda de algumas ferramentas online, descobrimos, por exemplo, que Marina, Dilma e Serra têm apenas um following em comum: o perfil do blog do jornalista Ricardo Noblat, que retribui o “follow” do trio.


Também é baixo o número de contas em comum seguidas apenas por Dilma e Marina: só o perfil @congemfoco está na lista das timelines observadas por elas. Trata-se do site de análise política Congresso em Foco que, curiosamente, não segue nenhuma das duas pré-candidatas.

Já Serra e Dilma compartilham dois following: o senador Delcídio Amaral (PT-MS) e a jornalista Cristina Lobo.

Quem tem mais afinidade, pelo menos no mundo do twitter, é Serra e Marina. Eles possuem o maior número de contas em comum: sete. Entre elas estão o senador Cristovam Buarque (PDT-DF), o apresentador Marcelo Tas, e o deputado Fernando Gabeira (PV-RJ).

Até o momento em que este post foi fechado, o gráfico dos followings de Dilma, Serra e Marina estava assim: (ver gráfico acima)

Observe: só nessa amostragem, Serra segue dois twitteiros de partidos da oposição. Espiar a concorrência faz parte da estratégia?

Até o momento em que este post estava sendo escrito, Serra liderava o número de contas seguidas, somando 5,018 perfis; já Marina segue 123 contas; e Dilma apenas 71.

Outra curiosidade é por quais ferramentas/sites os presidenciáveis postam seus tweets. Se conferirmos os últimos sete dias, constatamos que Dilma e Serra são mais “clássicos”, escrevem suas mensagens da própria página do Twitter na web. Já Marina é mais ousada, prefere ferramentas como HootSuite e Seesmic.

Bem que a gente gostaria de comparar os followers dos 3 pré-candidatos no Twitter. O problema é que a ferramenta que usamos para esta análise alertou que José Serra tem seguidores demais para fazer a comparação. Aliás, se alguém conhecer outra ferramenta de comparação de perfis, a gente agradece pela sugestão.

Mesmo sendo possível só sobrepor os followers das presidenciáveis, elas compartilham mais de 23 mil seguidores. Serão indecisos ou fanáticos por campanha eleitoral?
Siga-nos no Twitter: www.twitter.com/walterdossantos

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Quando o Cara quebrou a cara (4): Lula no Estadão

Editorial publicado no jornal O Estado de São Paulo de 12/06/2010, com o título "Os erros da política externa". – Walter Dos Santos
O chanceler Celso Amorim usa o argumento da altaneria para explicar o voto brasileiro contra as sanções aprovadas pelo Conselho de Segurança da ONU ao Irã. "Nossa posição foi independente, não foi quixotesca. Dizer não, em vez de se abster, era a única posição honrosa, honesta e justa. Se tivéssemos votado de outra maneira, teríamos perdido totalmente a credibilidade." O problema é que dois erros não fazem um acerto. E o erro original foi o governo brasileiro, tomado por absurda soberba, ter julgado que poderia levar o Irã a abandonar pela via negociada o seu programa nuclear, e que a comunidade internacional, penhorada e agradecida, passaria a acreditar nos bons propósitos de Teerã. Resultou daí o acordo de troca de urânio levemente enriquecido, patrocinado pelo Brasil e pela Turquia ? que só embarcou na aventura na undécima hora ?, que o Itamaraty exaltou como o início de conversações de boa-fé entre as grandes potências mundiais e o Irã, e as ditas grandes potências, calejadas no trato com a república islâmica, consideraram ser apenas mais um expediente para ganhar tempo.

O fato é que o acordo de Teerã reproduziu uma oferta feita pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) um ano antes, e rejeitada pelo Irã ? e o presidente Lula achou que essa seria a chave para a afirmação da influência do Brasil no Oriente Médio ? melhor dizendo, no mundo muçulmano. Seus assessores deixaram que ele incorresse no erro, ao não alertar que a oferta da AIEA fazia sentido quando foi feita, mas não mais um ano depois, quando o Irã havia praticamente dobrado o seu estoque de urânio enriquecido. Além disso, não há no acordo uma única palavra que sugira que o Irã se submeterá de bom grado às inspeções da AIEA ? e sem isso não se desfarão as suspeitas de que o objetivo do programa nuclear é a construção da bomba.

A diplomacia lulista cometeu mais um grave erro de avaliação quando tentou se imiscuir nos assuntos do Oriente Médio. Primeiro, Lula ofereceu seus bons serviços para obter a paz entre palestinos e israelenses? oferta que foi recusada com rascante ironia pelas duas partes. Depois, foi a vez do, digamos, equívoco iraniano.

Esses e outros fiascos se devem a uma interpretação enviesada da evolução e da tendência dos acontecimentos mundiais. Em seu antiamericanismo visceral, os assessores internacionais de Lula acreditam que a superpotência está em declínio, que o mundo experimenta uma fase de multipolaridade e que do diretório multipolar fazem parte os países emergentes, com grande destaque do Brasil. E que essas transformações já estão ocorrendo, e em velocidade vertiginosa. Ocorre que, se é verdade que as linhas gerais desse cenário são corretas, o ritmo das transformações é lento, como quase tudo na história.

O declínio dos Estados Unidos é lento e relativo ? o país continua sendo, de longe, a maior potência militar e econômica do mundo ? e o multilateralismo ainda cede às demandas e imposições da política de poder, como comprovam os fatos do dia a dia.

Não bastasse isso, o Brasil não tem condições objetivas de agir em regiões que estão fora de sua área de influência direta. Somente a reconhecida capacidade de articulação dos diplomatas do Itamaraty e o prestígio conferido ao presidente Lula por sua inegável popularidade no exterior não são suficientes para fazer do Brasil o interlocutor universal e o peacemaker à outrance que a propaganda oficial exalta.

Veja-se, a propósito, que o governo Lula nunca pretendeu ? justamente por saber que não dispõe dos instrumentos para esse tipo de tarefa ? resolver, por exemplo, o contencioso entre Argentina e Uruguai, a respeito das papeleras, ou consertar os desarranjos estruturais do Mercosul, ou buscar soluções para a virtual guerra civil colombiana. E tais contenciosos afetam diretamente os interesses brasileiros.

O presidente Lula e o Itamaraty, no entanto, sentiram-se à vontade para querer resolver problemas no outro lado do mundo, e justamente aqueles que, há anos ou décadas, tiram o sono das grandes potências, incapazes de promover a paz nessas regiões. A intromissão no caso palestino-israelense foi apenas patética. Já o envolvimento com o Irã é perigoso porque afeta graves questões de segurança internacional, que o Brasil não está preparado para enfrentar. 

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Dossiês e PT – tudo a ver (2)

Publicado no blog do Reinaldo Azevedo em 13/06/2010, com o título "Quando uma canalhice busca lavar a outra". – Walter Dos Santos
A Folha noticiou na edição deste sábado que os novos aloprados, a serviço da candidatura de Dilma Rousseff, armaram também um dossiê contra Eduardo Jorge Cardas Pereira, vice-presidente do PSDB, numa evidência de que “os caras” não queriam apenas liquidar com o candidato da oposição. O objetivo era acabar com a oposição inteira.

O caso de Eduardo Jorge é especialmente perverso porque, ao tempo em que era secretário-geral da Presidência (governo FHC), quase foi esmagado pela calúnia petista e de setores aloprados do Ministério Público — com o endosso, infelizmente, de boa parte da imprensa. Processou seus caluniadores ou representou contra eles nos órgãos competentes e venceu todos os embates.

Quase 10 anos depois, reportagem da Folha demonstra que os petistas estão no poder, mas seus métodos continuam os mesmos. O mais importante agora: A PROVA DA VIOLAÇÃO DESMONTA UMA OUTRA FARSA PETISTA. DIREI POR QUÊ.

O sigilo fiscal de Eduardo Jorge foi quebrado ilegalmente. O dossiê que fizeram contra ele só seria possível com o vazamento de suas declarações à Receita Federal. Ou por outra: seu sigilo fiscal foi violado sem autorização judicial. Quem o fez violou também a CONSTITUIÇÃO. É um crime gravíssimo. Já volto a este ponto. Retomo a questão que deixei ali no pé do parágrafo anterior.

Pegos com a boca da botija, fazendo um novo dossiê, os petistas tentaram arranjar uma saída: o papelório contra Serra e sua família nada mais seria do que o conteúdo de um suposto livro do ex-jornalista Amaury Ribeiro Júnior. Não se trataria, portanto, de coisa nova, articulada pela Casa do Espanto de Brasília — aquela em que circulam os Lanzetta’s Boys, cujo aluguel é pago em dinheiro vivo. Ditas as coisas de outra maneira: os petistas tentaram usar o aliado Amaury para lavar a nova sacanagem. Essa versão também foi para o brejo.

O dossiê contra Eduardo Jorge contém dados relativos a 2009. Trata-se, portanto, de coisa fresca. Isso evidencia que os petistas mentem — alguém está surpreso? ELES ESTAVAM, SIM, PRODUZINDO NOVAS PEÇAS DE DENÚNCIA CONTRA OS ADVERSÁRIOS. Eduardo Jorge não é candidato a nada; não disputa eleições. É um quadro do PSDB. O jogo para aniquilar adversários incluía Serra, candidato da oposição, mas também o vice-presidente do partido. É o jogo da aniquilação do outro.

Eduardo Jorge é uma parada dura para os petistas porque é um obsessivo com a documentação. Da outra vez, provou a montanha de mentiras contra ele porque sempre muito bem-calçado com os fatos e suas provas. Desta vez, não é diferente. A movimentação dita “suspeita” em suas contas tem a ver com o inventário de um patrimônio familiar. O vice-presidente do PSDB tem todos os dados em mãos para demonstrar que estava sendo vítima de mais uma armação.

A Casa do Espanto do Lago Sul, em Brasília, onde ficava a turma do Lanzetta, tinha— ou tem — um chefe, e seu nome é Fernando Pimentel, cuja situação como “coordenador” de Dilma se torna, a cada dia, mais insustentável, ainda que, no mesmo ritmo, mais compreensível. As identidades entre ambos são mesmo impressionantes: militaram no mesmo grupo terrorista e fazem um esforço danado para simular seu apreço às regras do jogo democrático, mas, como se nota, podem atuar também no mundo das sombras. Quando o Brasil era uma ditadura, escolheram o caminho da luta armada e do terror; na democracia, escolhem o dos dossiês, mundo este em que são protagonistas os arapongas, os espiões e os bandidos.

Chega! A casa — também a do Espanto — caiu. Como se vê, a operação era bem mais ampla do que parecia. Serra poderia ser o principal, mas não era o único alvo dos enlameadores de reputações. Tratava-se de uma operação grande, em várias frentes. Supor que tudo aquilo estava em curso sob a coordenação de um simples Lanzetta corresponde a subestimar a inteligência alheia. E Pimentel, tudo indica, subestima.

Notem: a falcatrua que tentaram armar contra Serra é, sim, muito grave. Mas se trata, em boa parte, da imaginação aloprada de escribas de aluguel, pagos para caluniar, para difamar, para inventar. O caso de Eduardo Jorge é infinitamente mais grave. Os dados que foram parar no papelório petista integram o conjunto de informações sigilosas prestadas a um órgão público. Alguém se aproveitou de sua condição de servidor — provavelmente, uma das milhares de nomeações feitas no bojo do aparelhamento de estado — para violar um sigilo garantido pela Constituição.

Em seu discurso na convenção do PSDB (ver posts abaixo), Serra falou sobre esse jogo perverso de eliminação do outro. Na escolha entre o candidato tucano à Presidência e a candidata petista, há clivagens as mais distintas. Mas há uma, tudo o mais estivesse empatado, que desempata o jogo para que tem a democracia como norte: trata-se de optar entre o estado democrático e de direito e o estado policial.

O PT vinha tentando usar uma canalhice para lavar outra. O dossiê do tal Amaury era, com efeito, só a parte velha, requentada, do novo dossiê. Ou por outra: o PT juntava às mentiras e armações antigas as novas mentiras e armações. Como vocês bem se lembram, essa gente asquerosa tentou meter até este escriba em seu jogo sujo. A idéia é que não sobre nada em pé na República: tudo tem de cair de joelhos diante da divindade do Luís 14 do Mensalão.

Não há dúvida de que são tempos difíceis. Mas também são tempos muito interessantes porque nos impõem escolhas. Pode-se ficar com a democracia, com o estado de direito e com as garantias asseguradas pela Constituição. E se pode ficar com Dilma Rousseff, Fernando Pimentel, Lanzetta e seus métodos.
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Dossiês e PT – tudo a ver (1)

Publicado no blog do Reinaldo Azevedo em 13/06/2010, com o título "O solo petista é propício à geração espontânea de dossiês". – Walter Dos Santos
“Não pedimos, não fizemos, não divulgamos nenhum dossiê, nenhuma investigação sobre Eduardo Jorge”.

A fala é de Cândido Vacarezza (SP), líder do PT na Câmara. Repete negativa de José Eduardo Dutra, presidente do partido, referindo-se ao dossiê contra Serra. É mesmo um troço impressionante.

No PT, há um solo propício ao que se poderia chamar, então, de “geração espontânea de dossiês”. Ninguém “pede”, ninguém “faz”, ninguém “encomenda”, ninguém “divulga”, mas o papelório aparece. Que seja sempre um petista ou alguém a serviço do partido a oferecê-lo a jornalistas, isso é só uma coincidência.

Desde os tempos de Primeira Leitura — revista que, ainda hoje, mesmo depois de morta, desperta rancor e fúria —, aponto o conluio nefasto entre PT, setores da imprensa, setores da Polícia Federal e do Ministério Púbico. Havia uma verdadeira linha de produção de “fatos” contra os inimigos do partido. Vigaristas, durante um bom tempo, solidificaram a sua reputação de “jornalistas investigativos” divulgando a invencionice da bandidagem.

O exemplo mais notável e duradouro de armação foi o tal Dossiê Cayman — não por acaso, contra figuras do governo FHC. Seus maiores divulgadores no jornalismo pararam de falar no assunto, depois que os autores da mentira foram presos, sem se descuilpar nem com os leitores. O mesmo procedimento procurou enlamear o processo de privatização.

O fato de alas saneadoras da imprensa se negarem, hoje, a ser porta-vozes de bandidos não deixa de ser um sinal positivo. Mas que se note: a linha de produção continua operando.

A política não é exatamente um lugar de santos ou um convento — a rigor, nem os conventos são… conventos! Mas que não tentem me atrair para a falácia de que “todo são iguais”. Iguais em quê? Segundo qual critério? FHC ficou oito anos do poder apanhando dos petistas, que botavam o bloco da rua — inclusive com o movimento “Fora FHC”. Alguém viu tucanos a oferecer “dossiês” a jornalistas contra Lula e seus valentes? A maior crise do governo Lula, a do mensalão, foi provocada pela base aliada.

Na oposição ou no governo, a prática dos petistas continua a mesma. A diferença é que, agora, dominam o aparelho de estado e o mobilizam contra adversários, coisa típica de estado policial. Trata-se de respeitar ou não as regras do jogo democrático. E eles não respeitam.

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sexta-feira, 11 de junho de 2010

Universidade e mercado: boa poesia, prosa ruim

Do ESQUERDA.NET: “A Universidade de Middlesex, em Inglaterra, decidiu fechar o curso de Filosofia e encontrou forte oposição de alunos, pessoal e outros cidadãos. Tariq Ali juntou-se ao protesto a 15 de Maio, com esta intervenção junto ao edifício ocupado.”

Poema de Brecht, citado por Tariq Ali como inspiração:

“Há os irreflectidos que nunca duvidam.
A sua digestão é esplêndida, o seu juízo infalível.
Não acreditam nos factos, acreditam só em si mesmos.
A paciência consigo mesmos é ilimitada. Os argumentos,
ouvem-nos com os ouvidos dum espia policial.
Os irreflectidos, que nunca duvidam,
encontram-se com os reflectidos que nunca actuam.
Duvidam não para chegar a uma decisão, mas
para eludir uma decisão. Com rostos ansiosos
advertem tripulações de navios afundando-se que a água é perigosa.
Debaixo do machado do assassino,
perguntam-se se ele não é humano também.
Resmungando qualquer coisa
sobre a situação não estar ainda clara, vão para a cama.
Portanto, se elogiais a dúvida,
não elogieis a dúvida que é uma forma de desespero.
De que serve a capacidade de duvidar
a um homem que não consegue decidir-se?
O que se contente com bem poucas razões
poderá actuar erradamente
mas o que precise de demasiadas
permanecerá passivo em tempos de perigo.”

Enquanto isso, Rodas, reitor da USP, defende hoje na Folha o investimento privado nas universidades públicas brasileiras. Comentário secundário (ou nem tanto): pra um dito bambambam, o cara escreve mal, viu? Ele podia ao menos ter delegado a tarefa a um assessor de prosa melhorzinha. Isso já dificulta o início de qualquer debate, tirando a ideia vir de quem vem.


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quinta-feira, 10 de junho de 2010

Ferreira Gullar: O PT é um perigo e o Lula é demagogo

Entrevista do poeta Ferreira Gullar ao jornal mineiro O Tempo publicada em 8/06/2010 por ocasião do lançamento do seu novo livro, "Em alguma parte alguma", em Belo Horizonte. – Walter Dos Santos
Na segunda parte da entrevista, Ferreira Gullar fala do novo livro e do momento político brasileiro. O poeta faz críticas ao presidente Lula e ao PT.

No sarau de hoje você vai declamar algum poema do seu livro novo? 
Vou. Mas ainda não sei qual.

Quando vai sair seu novo livro de poemas, “Em Alguma Parte Alguma”? 
Vai sair logo depois do meu aniversário, que é em 10 de setembro [Gullar fará 80 anos). Mas a data certa ainda não sei.

Você continua não andando de avião? 
Não. Eu não ando mais de avião. Eu tenho estresse. O estresse do aeroporto, da viagem... Atrasa tudo. Andar de avião é um sofrimento. A coisa mais rara é você chegar e embarcar na hora. É avião demais voando, e os aeroportos não comportam essa quantidade.

Você vai até Lisboa para receber o Camões? 
Não sei. Não quero nem pensar nisso. Lá eu não vou não. Pegar avião para cruzar o Atlântico, ficou louco?

Você tem escrito ensaios? 
Não. A minha ocupação permanente são as crônicas que faço para a “Folha de S. Paulo”. Tenho um livro chamado “Relâmpagos”, em que reuni textos poéticos sobre arte. Agora, estou preparando “Relâmpagos 2”, selecionando artigos que escrevi para algumas exposições, e textos que estou escrevendo. Devagar, sem pressa. Um livro que está me dando muito prazer de escrever.

Neste ano temos eleição presidencial. Você está animado? 
Ah, vai ser uma batalha. Os dois candidatos estão empatados. Espero que o Serra ganhe. Será um absurdo se o Lula, que empurrou a Dilma garganta adentro do PT, vá empurrar agora garganta adentro do país só pela vontade exclusiva dele. Acho que nem a Dilma é a favor disso.

Mas o governo Lula não teve nenhum mérito? 
Não é que não teve nenhum mérito. O principal problema do Lula é ele não reconhecer o que ele deve aos governos anteriores. Tudo dele é “Nunca na história deste país...”. Ele se faz dono de tudo o que ele combateu. Por que o Brasil passou pela crise da maneira que passou? Porque havia o Proer (programa de auxílio ao sistema financeiro). Mas o PT foi para a rua condenar o Proer dizendo que o governo FHC estava dando dinheiro para banqueiro. E a Lei de Responsabilidade Fiscal? O PT entrou no STF contra a lei. Ainda está lá o processo do PT para acabar com a Lei de Responsabilidade Fiscal. O PT era contra o superávit primário,era contra tudo. Quer dizer, tudo o que eles estão adotando e que se constitui a infraestrutura da política econômica eles combateram. Agora o cara não reconhece isso: ele diz que fez tudo. O Lula é, de fato, uma pessoa desonesta. Um demagogo. E isso é perigoso. Está arrastando o país para posições que são realmente inacreditáveis. O cara se tornar aliado do Ahmadinejad, o presidente de um país que tem a coragem de dizer que não houve o Holocausto? Ele está desqualificando mundialmente porque está negando um fato real que não agrada a ele. Então não pode. O Brasil vai se ligar a um cara desse? É um oportunismo e uma megalomania fora de propósito. É um desastre para o país. Eu espero que a Dilma perca a eleição. Não tenho nada contra ela, mas contra o que isso significa. O PT é um perigo para o país. O aparelhamento do Estado, o domínio dos fundos de pensão... Um sistema de poder que vai ameaçar a própria democracia. As pessoas têm que tomar consciência.

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Soninha entre demônios e capetas

Site do PPS
Li aqui no Caos um texto interessante de Soninha Francine, explicando o porquê de seu apoio a José Serra. Um dos pontos principais é que, na sua experiência como vereadora, ela viu ser injusta a transformação do então prefeito no diabo em pessoa, feita pelo seu partido na época, o PT. Um trecho:
“Enfim, eu o detestava. Até ser vereadora e ele, prefeito. E descobrir que o demônio que pintavam não era nada daquilo. Mal humorado, impaciente, carrancudo, ríspido demais às vezes? Sim. Mau caráter? Não.”
Um belo texto, convincente. Utiliza-se da infalível construção em torno do eixo aparência / realidade, mostra a transformação da personagem no curso da narrativa e faz apelo a uma imagem de tipo novo na política, com “papo real”. Por isso, e pela moral que Soninha tem, aliás merecida, o discurso faz efeito, o que se percebe bem neste comentário:


“Rangel disse...

Bacana da parte dela. Acho muito legal alguém abandonar as paixões partidárias e ver a coisa pelo lado prático, ali, no 'meiozão', na realidade dos fatos e registrar pra quem quiser ler.
Parabéns e agora sou seu fã, Soninha.”
Sem dúvida são empobrecedoras essas reduções maniqueístas do outro a demônios. Elas forçam a barra, envolvem simplificações, dependem de baixo nível e, em termos de eficiência de campanha (o que não é o mais importante), acabam até fortalecendo o adversário, pois comprometem a credibilidade de quem as formula.
Dá pra perguntar, porém, se a própria oposição hoje não vive de uma, com o perdão, capetização do petismo. Se o  mensalão não conseguiu colar na imagem de Lula – acima do bem e do mal, segundo declaração recente de Serra – é certo que prejudicou e muito a opinião geral sobre o partido. Vejamos duas faces recentes do discurso sobre esse capetismo:
1) “O PT defendia a ética e fez igual a todo mundo, logo é pior que todos” – estranho raciocínio, que premia a honestidade daqueles que sempre roubaram, mas nunca fingiram fazer diferente (será que não?): o sujeito detesta petistas porque seriam como os outros e então passa a apoiar… os outros. Dessa forma, viu-se o PPS criticar o governo Lula, principalmente sob a bandeira da ética, de mãos dadas com o republicaníssimo DEM (como bem apontou Rodrigo, “o ARENA, perdão, PFL, desculpa, DEM”). Soninha foi sub-prefeita da Lapa na gestão Kassab até deixar o cargo para ser, agora, pré-candidata, provavelmente ao senado. Contra essa DEMonização, ela não falou. Na Bahia, o PPS declarou recentemente, contra o PT do governador Jaques Wagner, apoio ao PMDB de Geddel Vieira Lima.
Quanto à bandeira da ética, vale lembrar que Soninha só mudou de partido e de lado quando isso lhe daria oportunidade de candidatar-se à prefeitura. Marina Silva analogamente só saiu para o PV no momento em que se viabilizou sua candidatura à presidência. Nem de longe é questão agora de demonizá-las, até porque ambas  têm muito a adicionar a nosso contexto político. Mas, em se tratando de política, se devemos relativizar os demônios, não custa humanizar as figuras angelicais.
O_PT_e_o_Diabo 2) “O PT é um partido autoritário, de DNA stalinista, usa da democracia só quando isso é de seu interesse imediato” – ora, quem quer que já tenha se aproximado da dinâmica interna do partido sabe da infinidade de tendências  discordantes, do quebra-pau que acontece ali dentro. Confunde-se unidade de ação (é de se perguntar se quem critica por alto a prática pensa em como deve funcionar um partido democrático) com tendências ditatoriais. Veja-se, além disso, como são tomadas as decisões no PSDB, entre três ou quatro grão-tucanos em restaurantes chiques dos Jardins. Mas ali estão nossos grandes democratas, certo?
Ainda que não se deva elogiar nem esconder a corrupção (aliás, quem deu mais liberdade à Polícia Federal e ao Ministério Público?), e que tudo indica ter havido uma forte hegemonia interna de um tendência no partido nos últimos anos, esse tipo de discurso em nada contribui para uma compreensão do que é o PT. É uma charge apressada, fácil e de gosto duvidoso.
Mas o erro mesmo é achar que a oposição ao PSDB e ao DEM dependa desses processos de diabolização. Raciocínios como o de Soninha às vezes dão a entender que só poderíamos ser contra Serra se o tomássemos como o satanás em sua forma vampiresca.
A questão não é simpatizar ou não com Serra pessoalmente, babar ou não com as entrevistas de FHC. O debate não deveria passar por quais são os nossos principais problemas e que grupo político tem condições de resolvê-los? No Brasil de hoje, que interesses cada um representa? Quem contribuiu mais para a redução das desigualdades? Qual deles tem mais compromisso com os mais pobres, com nossa soberania?
Me parece bastante possível posicionar-se a favor de Dilma e contra Serra a partir dessas questões, sem que ele nem de longe precise ser satanizado. E é um pouco demais dizer que as críticas à oposição só podem ser feitas na base do “ou Lula ou Lúcifer”.

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quarta-feira, 9 de junho de 2010

Quando o Cara quebrou a cara (3): Lula n'O Globo

O texto abaixo é do jornalista de O Globo Merval Pereira e foi publicado no Blog do Noblat de 9/06/2010 com o título "Novas derrotas". – Walter Dos Santos
A política externa brasileira sofreu ontem duas novas derrotas no seu confronto com os Estados Unidos. O Conselho de Segurança da ONU se reúne hoje para definir as sanções contra o Irã devido ao seu programa nuclear, e a Organização dos Estados Americanos (OEA), por pressão da secretária de Estado Hillary Clinton, formou uma comissão especial para preparar o retorno de Honduras ao órgão.

Nos dois casos, o Brasil está em posição oposta à dos Estados Unidos e tentou, sem sucesso, inviabilizar a solução defendida pelos americanos.

No caso de Honduras, o Brasil insiste na tecla de que a situação só se normalizará com o retorno do ex-presidente Manuel Zelaya ao país sem ter que responder pelos crimes de que é acusado — tentativa de golpe e corrupção.

O presidente eleito Porfírio Lobo, não reconhecido pelo governo brasileiro, mas considerado pelos Estados Unidos eleito normalmente e democrático, não aceita essa "anistia" defendida pelo Brasil e alguns outros países da região, com o apoio do secretário-geral da OEA Manuel Insulza.

O fato de que uma comissão analisará a situação democrática em Honduras para definir seu regresso à OEA deixa a questão um passo adiante da picuinha dos aliados do ex-presidente, que condicionam o retorno a uma espécie de satisfação a Zelaya.

O Brasil participou de uma manobra chavista para criar um fato consumado, abrigando o presidente deposto na nossa embaixada em Tegucigalpa, de onde atuava politicamente para recuperar o poder.

Com a eleição realizada normalmente, Zelaya teve que sair da embaixada com um salvo-conduto do novo governo eleito democraticamente, sem condições políticas de permanecer no país.

Agora, tenta regressar com o apoio dos mesmos países na OEA, mas tudo indica que o retorno de Honduras ao organismo regional está sendo analisado com prioridade sobre uma eventual anistia.

Já o Conselho de Segurança da ONU chegou a um consenso sobre as sanções contra o Irã, apesar das tentativas de Brasil e Turquia de convencer seus membros de que o acordo nuclear que intermediaram seria uma solução mais adequada.

Como as sanções tendem a ser mais duras do que estava previsto, a derrota da diplomacia brasileira será proporcionalmente maior, numa demonstração de que os países que controlam as decisões do Conselho de Segurança da ONU, inclusive China e Rússia, rejeitam o ponto de vista brasileiro.

Na resolução do Conselho há uma referência aos esforços de Brasil e Turquia, afirmando que o acordo que patrocinaram poderia ser o início de um diálogo se o Irã demonstrasse estar de boa-fé, mas nas sugestões para a retomada do diálogo, que encerram a resolução, não há nenhuma referência ao acordo.

A lista negra de cerca de 40 empresas que ficarão impedidas de fazer negócios no exterior, para estrangular o financiamento do programa nuclear iraniano, deve abranger a empreiteira Khatam Al-Anbiya, que já foi banida dos negócios internacionais em 2007 pelo Departamento do Tesouro dos Estados Unidos e em 2008 pela União Europeia, por suas ligações com programa nuclear clandestino do Irã.

Várias de suas subsidiárias também devem estar na lista. Essas empresas são ligadas à Guarda Revolucionária Islâmica e servem para financiar o programa nuclear. Empreiteiras brasileiras que porventura tenham acordos com elas sofrerão as consequências das sanções.

Como era de se esperar, e é natural que assim fosse, o presidente Lula soltou rojões verbais para comemorar o crescimento do PIB brasileiro no primeiro trimestre.

Mas, como sempre faz, exagerou na dose e extrapolou nos comentários, afirmando que este crescimento "extraordinário" é uma resposta àqueles que o "esculhambaram" quando disse que a crise internacional seria uma marolinha por aqui.

Ora, não apenas a crise não foi realmente uma "marolinha", pois o crescimento do país foi negativo em 2009, como foi a comparação com esse resultado muito ruim que permitiu que o PIB crescesse a ritmo chinês nesse primeiro trimestre. Crescimento, aliás, insustentável nas atuais condições do país, sem reformas e sem infraestrutura.

Os senadores das bancadas dos estados produtores de petróleo, especialmente os do Rio de Janeiro, estão passando por momentos dramáticos para tentar impedir que a nova legislação da distribuição dos royalties seja votada.

O problema é que a Confederação dos Municípios fez cálculos baseados na emenda Ibsen Pinheiro aprovada pela Câmara sobre quanto cada município ganha com a nova legislação dos royalties, como se já estivessem ganhando, e os senadores estão sendo pressionados para aprovar logo as mudanças.

O senador Pedro Simon, por sua vez, apresentou uma emenda dizendo que a União ressarcirá os estados produtores do que eles perderem com os novos critérios.

Os senadores dos estados produtores estão em uma queda de braço para ver se não votam a lei dos royalties agora, para evitar o clima emocional em época de eleição.

O líder do governo Romero Jucá fez uma emenda unindo o Fundo Social com a partilha, sem os royalties. Os senadores que são contra a mudança do sistema de concessão para partilha temem que, se derrotarem essa emenda, o governo tente retornar com a emenda original para uma espécie de segunda época da partilha, mas aí ela viria a debate juntamente com os royalties.

Tudo caminha para um acordo que aprovará a partilha e o Fundo Social, e deixará para novembro a discussão dos royalties.

Mas a pressão dos municípios está grande, e a emenda de Pedro Simon parece ser uma falsa solução, perigosa para os estados produtores, que dificilmente receberiam essa diferença da União.
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Um repórter escroto

Pequeno currículo de Amaury Ribeiro Júnior, repórter investigativo responsável pelo livro que vem sendo transformado em “dossiê'” encomendado pela campanha de Dilma Roussef, só pra deixar claro como faz sentido questionar a sua credibilidade:

“Dono de três prêmios Esso e vencedor de quatro prêmios Vladimir Herzog, entre muitos outros, Amaury Ribeiro Jr., 47 anos, é daqueles repórteres de imersão total na matéria, nem que para tanto tenha de correr riscos. Foi assim quando, investigando o assassinato de jovens pelo tráfico, foi baleado nos arredores de Brasília. Trabalhou, entre outros jornais e revistas, para O Globo, Isto É e Correio Brasiliense. Autor de reportagens sobre a guerrilha do Araguaia, a prostituição infantil e os entraves à educação do país, Ribeiro Jr. dedica-se, nos últimos dois anos, a esmiuçar os meandros do conturbado processo de venda das estatais brasileiras na bacia das almas nos anos 1990. E à investigação da lavagem internacional do dinheiro da corrupção. Integrante do Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ) e um dos fundadores da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) agora ele vasculha o que chama de ‘aloprações tucanas’.”

Fonte: Luis Nassif Online

Enquanto no Nordeste sempre ouvi que algo fudido era ruim (como em “E quem era inocente agora já virou bandido / Pra comer um pedaço de pão todo fudido”, de Chico Science), em São Paulo uma coisa fudida pode ser boa, como em “carro fudido, mano”. Algo análogo acontece com escroto. Prevalece o sentido pejorativo (Como em Bichos Escrotos, do Titãs), único que eu conhecia - uma injustiça grande com a porção da anatomia masculina responsável por metade de nosso DNA. Mas  um tênis escroto, aqui, é aquele dos mais caros, cheios de molas e cadarços coloridos. Enfim, escroto é também algo irado, fudido, nervoso.

Nesse sentido vale dizer: esse Amaury Ribeiro Júnior é mesmo um repórter escroto!


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terça-feira, 8 de junho de 2010

Dilma quer que o dossiê contra Serra seja divulgado

Publicado originalente no blog Coturno Noturno de 8/07/2010. – Walter Dos Santos
Pode haver declaração mais petralha? Pode haver mais mau caratismo? Pode a declaração abaixo, dada por Dilma Rousseff, do PT?
"Vou reiterar. Tais documentos, se existirem, não foram elaborados pela nossa campanha. Vamos deixar isso claro. Qualquer outra ilação é uma falsidade. Era bom que aparecessem esses documentos aos quais todo mundo se refere e ninguém demonstrou a existência". 
Ela não quer perder o investimento. Quer que o dossiê seja publicado pela grande mídia. Quer que ao "documentos" que vários veículos de comunicação receberam e jogaram fora por serem falsos parem nas manchetes. A petista entende como ninguém de dossiês. Fez um contra Dona Ruth Cardoso, que chamou de banco de dados. Ela não se contenta com a publicação da podridão contra Serra nos blogs do esgoto que o governo financia. Ela quer Jornal Nacional. Quanta escrotidão!

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segunda-feira, 7 de junho de 2010

“Dossiê”: entrevista e vontade de esclarecimento

A Folha divulgou hoje entrevista com o jornalista Amaury Ribeiro Júnior. Eis trecho:

Por que ocorreu a reunião?
Não era só vazamento, começaram a roubar coisas lá dentro. Sabotagem. [...] O Onézimo chegou nessa reunião dizendo que ele tinha condições de destruir isso porque ele havia trabalhado antigamente, e que tinha brigado com o pessoal, da inteligência do Itagiba. [...] Quando o Serra assumiu o Ministério da Saúde, ele montou --com o pretexto de investigar laboratórios-- uma central de espionagem, que era formado por quem? É só você ver quem estava cadastrado. Era um agente do SNI, o "agente Jardim", que até pouco tempo estava no gabinete [de Itagiba na Câmara], um ex-delegado... Isso quem falou foi o próprio Onézimo.

Ele chegou nessa reunião [e disse]: "Pô, vocês estão atrasados, porque essa equipe está trabalhando há dois anos". "Fazendo o quê?" "Ah, eles estão levantando dossiê contra o pessoal, esse povo do Itagiba está levantando 300 dossiês contra pessoas do PMDB, e quem do PMDB não votasse com o PSDB, estão fazendo chantagem, estão chantageando". [...] E disse o seguinte: que tinha sido convidado, inclusive, para integrar esse grupo. "Então pra gente descobrir quem está com vocês, aí, é muito fácil, porque eu já trabalhei lá". Ele contou também que trabalhou --o que facilitaria [seu trabalho]-- que já tinha trabalhado no grupo de inteligência da campanha de Fernando Henrique em 1994.

Ele disse que esse grupo do Itagiba, depois de vasculhar a vida do Aécio Neves e da Dilma e não ter encontrado nada contra, eles estavam desesperados. E disse que tem uns 500 dossiês contra o pessoal do PMDB. Essa é a verdade.”

Nassif sugeriu recentemente que está havendo uma tentativa do jornal de recuperar a credibilidade jornalística. Tomara. Deve fazer parte desse movimento o juízo de que ignorar o que está acontecendo na internet é insustentável.

Já no Estadão, Dora Kramer, hoje, parece ignorar inteiramente as informações que circulam na rede sobre o livro do repórter. E afirma:

“Se o PT tem informação relevante de interesse público a respeito, diga do que se trata.”

Mas, se o partido processa Serra pela acusação infundada quanto a Dilma ser responsável pelo dossiê, aí:

“Essa ação na Justiça é um gesto vazio e não ajuda a esclarecer coisa alguma.”

Ah, certo, a acusação do candidato tucano não foi “gesto vazio”, e ajudou a esclarecer muita coisa.


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domingo, 6 de junho de 2010

A cobertura da Folha sobre o “dossiê”

Sábado de manhã, me deparo com reportagem da Carta Capital intitulada “O dossiê do dossiê do dossiê…”. Pô, eu vinha preparando um post pro blogue chamado “Dossiê do dossiê”. Perdi o título, nada original mesmo, mas insisto, até porque minha abordagem vai ser um pouco diferente.

Na quinta, 3 de junho, Luiz Nassif publicou texto que esclareceu bastante os bastidores desse suposto dossiê contra Serra supostamente organizado pela campanha adversária supostamente por ordens da própria Dilma. Bem verossimilhante, o artigo diz mais ou menos o seguinte: a acusação parece ter sido uma maneira de o tucano defender-se preventivamente da divulgação de um livro que está sendo escrito pelo repórter Amaury Ribeiro Jr. sobre as privatizações da era FHC (quando mais?). E o pior é como a coisa teria surgido:

“Quando começou a disputa dentro do PSDB, pela indicação do candidato às eleições presidenciais, correram rumores de que Serra havia preparado um dossiê sobre a vida pessoal de seu adversário (no partido) Aécio Neves.

A banda mineira do PSDB resolveu se precaver. E recorreu ao Estado de Minas para que juntasse munição dissuasória contra Serra. O jornal incumbiu, então, seu jornalista Amaury Ribeiro Jr de levantar dados sobre Serra. Durante quase um ano Amaury se dedicou ao trabalho, inclusive com viagens à Europa, atrás de pistas.(…)

Nesse ínterim, cessou a guerra interna no PSDB e Amaury saiu do Estado de Minas e ficou com um vasto material na mão. Passou a trabalhar, então, em um livro, que já tem 14 capítulos, segundo informações que passou a amigos em Brasília.”

Na mesma quinta-feira, o jornalismo da Folha se ateve ao declaracionismo (a nova versão do criacionismo pelo verbo), e isso rendeu a manchete principal: Serra acusa Dilma de fazer dossiê; petista nega. Nesse dia seguiram-se vários quebra-paus, e o PT acabou decidindo processar Serra pela acusação. Gostei da troca de afagos entre o jornalista Ricardo Noblat e o presidente do PT, José Eduardo Dutra no Twitter:

“@BlogdoNoblat - Na versão que começou a circular, tem 110 páginas o dossiê contra Serra elaborado pelos novos aloprados do PT. 2:53 AM Jun 3

@ZéDutra 13 - Você sabe quem elaborou o tal dossie? Então diga. Ficar falando em "novos aloprados do PT" é desonestidade intelectual 9:41 AM Jun 3

@BlogdoNoblat - Eu sei, e o senhor sabe. E não me venha falar em desonestidade intelectual. Há companheiros do senhor que entendem disso melhor.

@ZéDutra 13 - Vc é um jornalista bem informado e deve saber a verdadeira origem desse suposto dossiê. Nâo queira jogá-lo no nosso colo.”

Na sexta, a Folha apenas publicou a notícia sobre a representação do PT e divulgou alguns dados sobre o dossiê, ainda relacionando-o à campanha de Dilma. O jornal ignorou inteiramente o texto de Nassif, que comentou a omissão.

Apenas ontem, sábado,  as edições impressa e online mencionam o repórter Amaury Ribeiro Jr, em matéria com a seguinte manchete: “Jornalista e delegado são pivôs de intriga do dossiê”. Em vez de ligar o início de suas investigações ao PSDB mineiro, a Folha prefere apontar para o Estado de Minas, “próximo politicamente de Aécio”.

Seguem-se minhas questões.

1) Por que a Folha ignorou inteiramente o texto de Luiz Nassif, autor do furo?

Como se sabe, Nassif foi colunista do jornal e, se não me engano, membro do conselhor editorial. Saiu durante o governo Lula, meio que num clima de que teria perdido sua “imparcialidade”. Gostaria de ver o trecho do manual da Folha que diz ser proibido atribuir afirmações a ex-empregados.

Talvez então se tratasse de rigor editorial, da necessidade de primeiro apurar os fatos. Ora, aposto com qualquer um que a Folha de amanhã terá trocentas declarações que por si só viram notícias, de fontes muito mais suspeitas que Nassif.

Para justificar a repercussão de uma afirmação como a de Serra, de que Dilma era a principal responsável pelo tal dossiê, certamente se evocaria um dos pilares éticos da empresa: o direito do leitor à informação. Pouco importa se era apenas jogo de cena do candidato, a Folha seria como aquele seu amigo que nunca te esconderia nada, ou aquela tia que causa frisson em reuniões familiares por sua falta de papas na língua. Ao leitor cabe julgar o mérito da informação. O mesmo vale para invasão de privacidade, violação de sigilos bancário e telefônico, reprodução de buchichos dos corredores da política, etc. É claro, tudo isso é válido em caso de predomínio do interesse público, mas a questão é: quem julga o que deve ser informado e o que deve ser calado, e com que critérios?

Bem ou mal a Folha acabou dando algumas informações sobre o livro do jornalista, que, a partir de uma matéria da respeitabilíssima Veja, virou o “dossiê” da tal intriga. A essa altura, era inevitável. Mas não nos enganemos: o direito do leitor à informação é o direito da empresa jornalística de controlar a informação. Com a internet, podem ter se ampliado as fontes, mas muito pouca gente lê blogues de política, seja por desinformação, seja por falta de acesso, seja porque, convenhamos, há coisas muito mais interessantes e bem escritas pra se ler nesta vida.

2) Por que a manchete de ontem enfatiza o papel do jornalista e do delegado?

A pergunta me parece importante porque há ao menos duas outras questões de pelo menos igual valor jornalístico: se é verdade que Aécio e seu grupo político mandaram fazer um dossiê preventivo contra Serra; e – essa sem dúvida é mais importante - o que o livro de Amaury Ribeiro Jr. traz de novo sobre as privatizações (ele não teria escrito tanto apenas pra recontar a história).

Existe ainda a questão do envolvimento do delegado Onézimo de Souza com o episódio da Lunus, que tirou Roseana Sarney do páreo e deixou campo aberto pra candidatura de Serra na campanha de 2002.

A ideia, suspeito, é levar um pouco mais adiante a história de que há novos “aloprados”, ou “neoaloprados”, como já se disse por aí (um rótulo assim, percebam, é extremamente eficaz). Baixada a poeira, tanto faz o que de fato aconteceu ou deixou de acontecer. Até outubro, veremos pulularem remissões a esses “fatos” de que a campanha de Dilma retoma as piores práticas do partido, o que aliás apenas revelaria sua faceta autoritária e o desrespeito geral desses stalinistas pelos princípios democráticos, como a legalidade e a liberdade de imprensa.

Bismarck é, se bem me lembro, o autor da célebre máxima segundo a qual as leis são como as salsichas: é melhor não saber como se fazem. O mesmo, alguém já disse, aplica-se às notícias. Outra afirmação notória sobre a legislação - “Aos amigos, tudo; aos inimigos, a lei” – também poderia ser dita do jornalismo: seu exercício deve ser mais cuidadoso quando se trata de fuçar a vida dos adversários.


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O que a esquerda brasileira não conta (4)

Atenção: se você é uma pessoa sensível a imagens fortes, não assista ao vídeo abaixo! Ele mostra fotos das torturas, empalamentos, fuzilamentos, campos de extermínio, dentre outros crimes cometidos sob a ideologia marxista no Leste Europeu, Espanha e China contra dissidentes e civis. Até mesmo crianças foram vitimadas em nome da sociedade sem classes proposta por Marx.
Youtube – O Holocausto Comunista


Veja também na série O que a Esquerda Brasileira não Conta
Texto (1) – Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil
Texto (2) – Novos estudos reformulam a História do Brasil
Texto (3) – A verdade sangrenta sobre o Comunismo

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Soninha: Por que desprezo o PT e apoio Serra

Soninha Francine, ex-petista e ex-vereadora de São Paulo, é candidata a governadora do Estado pelo PPS. No depoimento abaixo, ela apresenta as razões de sua saída do Partido dos Trabalhadores, os bastidores sujos do jeito PT de governar e por que apoia José Serra para presidente. Publicado originalmente por Nilson Martins, com o título "Soninha Francine abre o jogo", no blog Sem Retoques em 4/06/2010. – Walter Dos Santos
Leandro Dalle questionou a Soninha Francine sobre seu apoio ao Serra. Enviamos a mensagem e ela nos enviou a seguinte resposta:
Leandro, posso explicar, sim. Talvez não em poucas palavras, mas em muitas informações sobre o que vi, vivi e aprendi nos últimos anos. Pra não deixar sem nenhuma resposta agora, posso resumir assim:

- Descobri que o meio em que eu vivia - de petistas - inventava muitas barbaridades sobre o Serra. Por que o Serra? Não sei, talvez porque ele tenha sido o candidato do governo à sucessão do Fernando Henrique, portanto rival direto do Lula na disputa presidencial... Porque os petistas já pintavam os tucanos como o fel da terra (e eu, mesmo quando era do PT, achava isso um pouco absurdo), e o Serra como o próprio Satanás. Só que os fatos, mesmo vistos de longe, já desmentiam algumas coisas que diziam sobre ele: como ele podia ser "queridinho" da grande mídia quando comprava briga contra a publicidade de cigarro, por exemplo - que era uma baita fonte de receita para os meios de comunicação? E como ele era parte da elite imperialista internacional, quando foi à OMC e lutou contra os lobbys e cartéis da indústria farmacêutica, conseguindo as quebras de patente em nome da saúde pública dos países mais pobres?

Mesmo com esses fatos, eu acreditava nas versões do PT... Afinal, o PT era o meu partido, eu tendia a concordar com tudo... Pensava: "Ok, eles fez uma ou duas coisas importantes, corajosas, mas nem por isso é uma pessoa decente". O PT dizia que ele era covarde, porque tinha "fugido" da ditadura... Que era um manipulador ardiloso, porque "armou" um flagrante pra Roseana Sarney (se bem que eu já pensava naquela época: o marido da Roseana Sarney tem um milhão e meio de reais de origem desconhecida e a culpa é do Serra?).

Enfim, eu o detestava. Até ser

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