Recentemente, como era esperado, todos os principais candidatos a presidente se declararam a favor da união civil de pessoas do mesmo sexo. A diferença de Marina é que, por sua religião, ela condena o casamento entre homossexuais, enquanto os outros dois tendem a deixar para cada religião decidir sobre o tema. O meu post sobre esse assunto recebeu uma resposta indireta de Walter, então gostaria de explicitar melhor minha posição.
É claro que o Estado não deve se imiscuir em crenças religiosas, a não ser que atentem contra direitos humanos. Como só entra na religião quem quer, as igrejas têm direito de dizer que uniões considera válido sacramentar.
Mas a questão não é, obviamente, essa. Se um candidato, por conta de crenças religiosas, considera mais digno de sacramento certo tipo de união, aquela entre homens e mulheres, ele está, sim, lançando uma condenação moral àqueles casais que fogem à regra. O sexo entre homem e mulher, para constituir família, é aceito, sob a bênção do sacerdote. Não importa se você é um cafajeste, corrupto, mentiroso, a heterossexualidade te dá o direito de ter sua união reconhecida. Você é acolhido na comunidade. As portas do céu estão lá, abertas. Agora, seja você, não digo um santo, mas um sujeito legal, sincero, solidário, ou sei lá, uma pessoa mais ou menos boa, e homossexual, então dane-se – literalmente, dane-se. A comunidade não te aceitará dessa forma. Se disfarce. Minta pra pertencer. Mude. Seu encontro com o capeta está, do contrário, praticamente garantido.
Quando eu fiz referência ao “a César o que é de César” (pensei que não fosse necessário explicitar) quis dizer que, no caso de Marina, a união civil entre pessoas do mesmo sexo era aceita como coisa do mundo terreno, com suas regras e características próprias, do carnal, da corrupção, da perdição, do desespero. É justo reconhecer como é justo pagar o imposto de renda, ainda que a ordem das coisas no mundo esteja infinitamente distante do reino dos céus. Enquanto o casamento é da ordem do divino, da lei superior, do espírito, do caminho da vida, da salvação, da esperança…
Como se sentem pessoas que apenas querem ficar com quem gostam, ou mesmo se comportar sexualmente da forma que desejarem, diante dessas legiões de sacerdotes tachando de pecaminoso um modo de vida que lhes parece mais natural, ou desejável, e que não prejudica a ninguém? Não é só algo incômodo, como essas orquestras de vuvuzelas, é uma tortura lenta, cruel. Eu que não vou considerar isso aceitável, já tenho outras culpas.
Marina é uma pessoa com uma grande trajetória, e está anos luz à frente do nível de nossos agentes políticos. Eu acho válido, contudo, que qualquer cidadão que ache as crenças de um político, inclusive as religiosas, de alguma forma discriminatórias, possa dizê-lo e levar isso em conta nas suas escolhas.
De qualquer forma, aquele post era mais para fazer ressalvas à ideia de que, admitindo a diferença com os movimentos pela liberdade sexual, Marina entrava num patamar superior de moralidade em relação aos demais candidatos, que prefeririam esconder-se sob disfarces.
E abaixo a caixa-alta!
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