quinta-feira, 29 de abril de 2010

Charges.com: Como Serra pode ser "o cara"

Publicada originalmente no site Charges.compor Maurício Ricardo Quirinocom o título "Semelhanças". – Walter Dos Santos






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Charges.com: Dilma no Twitter

Publicada originalmente no site Charges.compor Maurício Ricardo Quirinocom o título "Nova Tuiteira". – Walter Dos Santos




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O que a esquerda brasileira não conta (2)


Recomendo a todos que assistam à entrevista veiculada no programa Entre Aspas, da Globo News, de 16/02/2010 com o tema "Novos estudos reformulam a História do Brasil". Trata-se de uma mesa com o historiador Marco Antônio Villa e o jornalista Leandro Narlochec, discutindo velhos mitos e teses da História do Brasil.

Não é uma revisão conspiracionista, mas uma discussão sobre o hiato entre a pesquisa historiográfica feita nas universidades e o ensino difundido nos livros didáticos. Investigando documentos outrora secretos ou questionando estudos sem apoio documental os pesquisadores produziram novas teses sobre a Guerra do Paraguai, a Coluna Prestes, a posse de escravos por Zumbi dos Palmares, a resistência à ditadura militar, a raiz popular-nacional do samba brasileiro e outros pontos polêmicos de nossa História.

A íntegra da entrevista pode ser vista no site do programa.

Veja também na série O que a Esquerda Brasileira não Conta
Texto (1) – Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil
Texto (3) – A verdade sangrenta sobre o Comunismo
Texto (4) – O Holocausto Comunista

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Azevedo: Segurança pública e violência no Brasil

Texto publicado originalmente na coluna de Reinaldo Azevedo de 29/04/2010, com o título: "O BRASIL PRECISA PARAR DE MATAR PESSOAS E A LÓGICA! OU: ZÉ DIRCEU, COORDENADOR DE DILMA, COMO SEMPRE, ESTÁ ERRADO!!!". – Walter Dos Santos
Caros, leiam com atenção o que vai abaixo. Acho que há algumas revelações aí — como sempre, estou revelando o óbvio, escondido nas trevas da mistificação.

Defendi ontem aqui a criação do Ministério da Segurança Pública, proposta apresentada pelo pré-candidato tucano à Presidência da República, José Serra. Afirmei que São Paulo tem uma história de êxito — única!!! — na redução do número de homicídios. Mais ainda: para desagrado das esquerdas botocudas, sustentei que NÃO há uma relação de causa e efeito entre pobreza e violência. Não há também uma relação causal entre maior ou menor distribuição de renda e criminalidade. É preciso distinguir correlação e causalidade.

E o que me leva a fazer tais afirmações? Olhem: em primeiro lugar, é uma questão de ordem moral, que independe de números: só é bandido quem quer, pouco importam as tais condições sociais. Só os bananas que conhecem o povo de ouvir falar sustentam que pobreza predispõe ao crime. Isso, sim, é uma escolha. E essa minha convicção está ancorada em números. No fim do mês passado, foi divulgado o Mapa da Violência. Esse trabalho faz uma anatomia dos homicídios no Brasil com dados coletados no país inteiro e é publicado desde 1998. Os dados mais recentes vão até 2007. Trata-se de um trabalho sério, respeitado por todas as pessoas que lidam com essa questão. Dêem uma olhada na tabela abaixo.


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O que a esquerda brasileira não conta (1)

Publicado originalmente no Mídia sem Máscara em 22/12/2009 por Leandro Narloch, com o título Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil. - Walter Dos Santos
Os intelectuais de esquerda que escrevem a história brasileira têm mais um livro para se incomodar: o Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil, do jornalista Leandro Narloch.

Lancei recentemente pela editora Leya o livro Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil, uma reunião informações esquecidas e episódios irritantes e desagradáveis a quem se considera vítimas de "grandes potências", "exploradores" e "imperialistas". Deixo para os leitores do MSM alguns exemplos.

Zumbi tinha escravos


Nos anos 70, os historiadores marxistas projetaram no Quilombo de Palmares tudo o que imaginavam de sagrado para uma sociedade comunista: igualdade, relações de trabalho pacíficas e comida para todos. Sabe-se hoje que o quilombo do século 17 estava mais para um reino africano daquela época que para uma sociedade de moldes que surgiram mais de um século depois. Zumbi provavelmente descendia de imbangalas, os "senhores da guerra" da África Centro-Ocidental. Guerreiros temidos, eles habitavam vilarejos fortificados, de onde partiam para saques e sequestros dos camponeses de regiões próximas. Durante o ataque a comunidades vizinhas, recrutavam garotos, que depois transformariam em guerreiros, e adultos para trocar por ferramentas e armas. Esse modo de vida é bem parecido ao descrito por quem conheceu o Quilombo dos Palmares. "Quando alguns negros fugiam, mandava-lhes crioulos no encalço e uma vez pegados, eram mortos, de sorte que entre eles reinava o temor", afirma o capitão holandês João Blaer.

Décio Freitas inventou dados sobre Zumbi

Os historiadores marxistas que engrandeceram Zumbi tinham um problema: não há sequer um documento dando detalhes da personalidade ou da biografia do líder negro. Para resolver esse obstáculo, Décio Freitas mentiu sem culpa. No livro Palmares: A Guerra dos Escravos, Décio afirma ter encontrado cartas mostrando que o herói cresceu num convento de Alagoas, onde recebeu o nome de Francisco e aprendeu a falar latim e português. Aos 15 anos, atendendo ao chamado do seu povo, teria partido para o quilombo. As cartas sobre a infância de Zumbi teriam sido enviadas pelo padre Antônio Melo, da vila alagoana de Porto Calvo, para um padre de Portugal, onde Décio as teria encontrado. Ele nunca mostrou as mensagens para os historiadores que insistiram em ver o material. A mesma suspeita recai sobre outro livro seu, O Maior Crime da Terra. O historiador gaúcho Claudio Pereira Elmir procurou por cinco anos algum vestígio dos registros policiais que Décio cita. Não encontrou nenhum.

Quem mais matou índios foram os índios

Nas bandeiras ao interior do Brasil, geralmente apontadas como a maior causa de morte da população indígena depois das epidemias, havia no mínimo duas vezes mais índios - normalmente dez vezes mais. Sobre a mais mortífera delas, a que o bandeirante Raposo Tavares empreendeu até as aldeias jesuíticas de Guaíra, os relatos apontam para uma bandeira formada por 900 paulistas e 2 mil índios tupis. "No entanto, nestas versões, o total de paulistas parece exagerado, uma vez que é possível identificar apenas 119 participantes em outras fontes", escreveu o historiador John Manuel Monteiro no livro Negros da Terra. Cogita-se até que o modelo militar das bandeiras seja resultado mais da influência indígena que europeia. "É difícil evitar a impressão, por exemplo, de que as bandeiras representavam uma predileção tupi por aventuras militares", afirma o historiador Warren Dean.

Os portugueses ensinaram os índios a preservar a floresta

Apesar de muitos líderes indígenas de hoje afirmarem que o "homem branco" destruiu a floresta enquanto eles tentavam protegê-la, esse discurso politicamente correto não nasceu com eles. Nasceu com os europeus logo nas primeiras décadas após a conquista. Os portugueses criaram leis ambientais para o território brasileiro já no século 16. As ordenações do rei Manuel I (1469-1521) proibiam o corte de árvores frutíferas em Portugal e em todas as colônias. No Brasil, essa lei protegeu centenas de espécies nativas. Em 1605, o Regimento do Pau-Brasil estabeleceu punições para os madeireiros que derrubassem mais árvores do que o previsto na licença. Conforme a quantidade de madeira cortada ilegalmente, o explorador poderia ser condenado à pena de morte.

João Goulart favorecia empreiteiras

A informação vem do próprio Samuel Wainer, no livro Minha Razão de Viver. De acordo com o jornalista, então diretor do Última Hora e um dos principais aliados do presidente, o esquema da época era aquele famoso tipo de corrupção que hoje motiva escândalos. "Quando se anunciava alguma obra pública, o que valia não era a concorrência - todas as concorrências vinham com cartas marcadas, funcionavam como mera fachada", escreveu Wainer. O que tinha valor era a combinação feita entre homens do governo e das empresas por trás das cortinas. "Naturalmente, as empresas beneficiadas retribuíam com generosas doações, sempre clandestinas, à boa vontade do governo."

Os guerrilheiros comunistas não lutavam por liberdade

De dezoito estatutos e documentos escritos por organizações de luta armada nos anos 1960 e 1970, catorze descrevem o objetivo de criar um sistema de partido único e erguer uma ditadura similar aos regimes comunistas que existiam na China e em Cuba. A Ação Popular, por exemplo, defendia com todas as letras "substituir a ditadura da burguesia pela ditadura do proletariado".


Veja também na série O que a Esquerda Brasileira não Conta
Texto (2) – Novos estudos reformulam a História do Brasil
Texto (3) – A verdade sangrenta sobre o Comunismo
Texto (4) – O Holocausto Comunista

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Ciro Gomes no NPTO

Celso Fernando Rocha de Barros comenta, no seu blogue NPTO (altamente recomendável), a saída de Ciro Gomes da campanha presidencial. Ou melhor, ao contrário da maioria, ele prefere aprofundar a análise do personagem, em minha opinião bastante interessante, e algo enigmático.

Ciro aumentaria o nível do debate na campanha. Menos marquetado dos pré-candidatos, também a tornaria mais espontânea – e engraçada.

  


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domingo, 25 de abril de 2010

A utopia de Maria da Conceição Tavares

A Globonews fez uma boa entrevista com Maria da Conceição Tavares, que está fazendo 80 anos. Lucidez impressionante, viu? É longa;  vale a pena cada minuto. Fiquei foi querendo mais.

Ali pelos 10:40, ela afirma ser socialista utópica “em abstrato”, porque, com a derrota do socialismo real, hoje “não se vê nada…” Parece bem interessante essa afirmação da utopia, combinada com uma visão reformista, e vinda de alguém com tanta vivência de Brasil. E não é só daquela postura de aposta (é preciso acreditar, pois do contrário a vida não vale a pena): ela também anda otimista com o país.


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sábado, 24 de abril de 2010

A greve dos professores e o “desafio à justiça eleitoral”

Parecer do procurador-geral eleitoral, Roberto Gurgel, concordou com a representação do PSDB e do DEM quanto a um caráter de propaganda eleitoral antecipada anti-Serra da greve dos professores da rede estadual paulista, como mostra a matéria da Folha reproduzida anteriormente aqui no caosa. Gurgel é aquele que, em outro texto, eu dizia ser parecido com Jô Soares. Semelhança essa que, convenhamos, não tem nenhuma importância.

Importante é ver nesse parecer, me parece (não resisti), um exemplo daquilo de que eu falava naquele momento: como o governo Lula deu mais independência ao MP, o que demonstra respeito às instituições democráticas. Vocês lembram, o procurador-geral foi escolhido por eleição da categoria, assim como aqueles responsáveis pelo “caso do mensalão”. O presidente não precisa seguir o resultado da consulta, mas Lula, ao contrário de FHC, vem fazendo isso.

Militante petista maníaco busca tornar positiva qualquer notícia pró-Serra? Não vem que não tem. Nem militante sou. E, pra mim, bem que Lula e Dilma andam merecendo uns puxões de orelha, por exemplo pelo pé na bunda que deram em Ciro Gomes, pra ficar num assunto mais “em pauta”. Também não pretendo tratar da greve, que já rendeu boas discussões aqui no blog – basta olhar aí do lado nos “temas abordados”.

Considero importante destacar essa questão do MP por conta da ideia tão repetida de que Lula se sente acima das instituições e só as respeita quando isso lhe interessa. A propósito, abertura de matéria de O Globo dizia, na sexta-feira, 9 de abril:

O presidente Luiz Inácio da Silva desafiou a legislação eleitoral na noite desta quinta-feira, em evento festivo do PCdoB para oficializar apoio à presidenciável do PT, Dilma Rousseff.

Esse lide – uma pérola que o restante da matéria me faz supor ter sido enxertado pela chefia editorial - é protótipo do que deu base a inúmeros editoriais, artigos, “repercussões” e posts midiosfera afora. De modo geral, todos ficamos sabendo que Lula afirmou: '”não podemos ficar subordinados ao que um juiz diz que podemos ou não fazer”. E aprendemos que isso se relacionava às multas que a justiça eleitoral aplicou ao presidente por transformar eventos do governo em palanques pró-Dilma.

Um absurdo, não é!? Foi o que disseram os sempre a postos guardiões da nossa combalida democracia. Qualquer estudante de direito consegue impostar a lábia para defender princípios basilares do Estado Democrático, como a divisão de poderes, o respeito à decisão judicial, a independência dos magistrados e por aí vai. Convém, contudo, que nos perguntemos se o dizer não se estranha com o fazer, sobretudo no caso dos detentores de cargo no executivo ou no legislativo. Afinal, há várias maneiras de ler um discurso de político, entre as quais a ingênua e literal não está entre as mais recomendáveis. Na prática, o que vale é o “aos amigos, tudo; aos inimigos, a lei”.

Mas, dirão alguns, na vida, e principalmente na política, muitas vezes dizer não é fazer? Assim, ainda que Lula possa ter sido todo estadista ao referendar a indicação do pessoal que chamou seus companheiros de “organização criminosa”, um presidente não pode afirmar que não está sujeito, subordinado às decisões de um juiz. E a isonomia, onde que fica?

É aqui que eu queria chegar: essa “declaração” de Lula não passou de um factóide. A própria matéria de O Globo cita o contexto imediato de que se tirou a afirmação:

“- Quando eu estiver fora (do governo), vou ter força para evitar que se faça com a Dilma o que fizeram comigo em 2005 (aparentemente, ele falava da investigação do mensalão do PT). Vou gritar mais, vou ter mais liberdade. Não vou ser instituição. Vou arregaçar as mangas para fazer a reforma política, porque não podemos ficar subordinados ao que um juiz diz que podemos ou não fazer. Vou poder gritar mais, perturbar mais - disse Lula, em tom exaltado.”

Perceberam? Lula se referia ao que pretende fazer quando deixar a presidência, quando não for instituição. E o que é isso, especificamente? Trabalhar pela reforma política. Por que motivo? Para que não façam com Dilma, se eleita, o que fizeram com ele. A explicação do parêntese tem tudo pra ser outro enxerto do editor – eu apostaria a rodada de cerveja do sábado nisso. Acredito que ele não falava da “investigação do mensalão”. Caso contrário, poderia não ter referendado a recondução de Antonio Fernando (o autor da denúncia da formação de quadrilha) como procurador-geral em 2007.

E esse não é um caso isolado da profunda preocupação com a ética e a democracia que anda tirando a noite de nossos combalidos patriotas. Reproduzo abaixo, como exemplo, “piada” que circula por email. Fiz questão de manter mais ou menos as cores da fonte.

Em um congresso internacional de medicina.

O médico alemão diz:
Na Alemanha, fazemos transplantes de dedo. Em 4 semanas o paciente está procurando emprego.
O médico espanhol afirma:

A medicina espanhola é tão avançada que conseguimos fazer um transplante de cérebro. Em 6 semanas o paciente está procurando emprego.
O médico russo diz:

Fazemos um transplante de peito. Em 1 semana o camarada pode procurar emprego.
O médico grego disse:

Temos um trabalho de recuperação de bêbados. Em 15 dias o indivíduo pode procurar emprego.
O médico brasileiro diz orgulhoso:

Isso não é nada! No Brasil, nós pegamos um cara sem dedo, sem cérebro, sem peito e chegado a uma pinga, colocamos na presidência da república e agora o país inteiro está procurando emprego.

IMPORTANTE:

TODO AQUELE QUE RECEBER ESTA PIADA, TEM A OBRIGAÇÃO MORAL DE ENCAMINHAR, EM DEFESA DA ÉTICA E DA DEMOCRACIA.

SE VOCÊ ROMPER A CADEIA, O LULA PODE ELEGER TERRORISTA DILMA...
ODEIO CORRENTES, MAS ESSA É POR UMA BOA CAUSA!!”

Pois é… “EM DEFESA DA ÉTICA E DA DEMOCRACIA”, uma “BOA CAUSA”, contra a eleição da “TERRORISTA DILMA”… E vêm falar logo em emprego, setor em que qualquer comparação é largamente benéfica ao governo Lula, especialmente quanto ao período FHC! Vejam, por exemplo, aqui.

Depois de uma dessa pra começar a noite de sábado, só falta o Bahia me perder o Ba-Vi de amanhã.


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Da Lama ao Kaos

Impossível não responder aos depoimentos deixados por Ricardo, Rodrigo e Fernanda, no meu texto "A Pedagogia Pilatus".

Rodrigo, fique feliz: também tenho que escrever um texto sobre Historiografia (da Grécia ao Iluminismo) para ensino da História em uma universidade estadual. Também estou sem tempo. Divido minha miséria com a tua, que bom! Não temos tempo e ainda assim escrevemos: é pela margem que se devora o rio. (Estou aguardando um longo texto seu! Se vira!)

Ricardo: teu depoimento é belíssimo. Tua escrita é ótima: que prazer tenho no mundo quando encontro pessoas que elaboram o mundo. A pedagogia é mesmo um campo de batalha, um trabalho de sísifo, uma guerra em que sempre se ganha e sempre se perde: um labirinto de Cnossos sem fio de Ariadne. Tua bravura muito, muito me lisonjeia.

Preciso pontuar questões que deixei um pouco no ar: não se trata de exigir alunos ideais e instituições ideais. "Sejamos realistas, desejemos o impossível", contudo, há que se complementar o clichê com um pouco do Hagakure samurai: "aceitar a vida tal qual ela se apresenta". E, tu sabes bem, não se trata de passividade, mas do anseio sincero de querermos mesmo construir uma educação livre e, por isso, começamos pela consciência efetiva sobre esse imenso panóptico histérico que se tornou o mercado da educação no Brasil. É de dentro que se transforma o real; a teimosia é a mãe de todas as virtudes. Assim, conheço a contingência dos alunos. Também trabalhei, dando aulas como professor eventual na escola pública quando fazia minha graduação em História. Sei que a carga de leitura sempre fica aquém do que desejamos: a dos alunos porque eles têm que trabalhar para se manter e, justiça seja feita, a dos professores também, porque temos que ter três ou quatro empregos para podermos comprar nossos livros, pagar nosso aluguel, etc. Tenho consciência das nossas contingências (de alunos e de professores), o que me assusta é, muitas vezes, a alienação do aluno frente ao seu processo pedagógico. O que me assusta não é uma suposta maldade ou má fé do aluno: o que me deixa transtornado é a suposição, por parte do estudante, de que o processo de aprendizado pode ser indolor, pode ser confortável ou confortante, pode ser tranquilamente saboroso. Eu me pergunto: "O que os ensinos fundamental e médio fizeram com esses meninos e meninas, que eles começaram a acreditar que existe conquista sem sofrimento?" Ou ainda: "De onde eles tiraram a idéia que minhas explicações, minhas aulas, podem substituir um processo de aprendizado, de reflexão e de leitura que só eles próprios podem percorrer?"

Essas perguntas me assustam porque revelam certa idiossincrasia muito perversa de nossa educação: o diretivismo do professor em sala de aula, o mito do Showman-teacher dos cursinhos, a lenda do professor palmatória (bate, mas educa) de nosso passado de senzalas à kubitscheks, ainda teimosamente persiste! Ainda se confunde seriedade com sisudez, ainda se confunde ensino com aprendizagem, ainda se acredita no professor-divindade, como um deus Moloch capaz de dar a vida e distribuir a morte. Acredita-se que cabe ao professor a responsabilidade única, o monopólio pelo aprendizado. Desde o ensino fundamental, professores e professoras reclamam da inabilidade dos alunos para com o estudo, mas eu pergunto: "Quando os professores fizeram da sala de aula um lugar de estudo, de reflexão?" Eu sempre escuto aquele papo furado: "Meu professor de cursinho é que era ótimo.... Ele falava e a gente entendia tudo". Pois é: para nossa sociedade, entender e apender é a mesma coisa. Eu sinto estes problemas quando estou em sala de aula na Universidade: meus alunos têm medo de perguntar! Meus alunos têm medo da dúvida! Meus alunos desconfiam de si mesmos e acreditam que aprender é tentar repetir, liturgicamente, o que eu disse em sala. O que me assusta não é a dificuldade do estudo no modo de produção capitalista (essa eu conheço bem), o que me assusta é o que nossa sociedade fez com a educação que matou toda a capacidade criativa o aluno, toda a sua liberdade (e responsabilidade) para com o saber. Tranformou pessoas em corpos dóceis, futuros intelectuais em pussycats, bruxos em broxas, etc.

Não se trata de defender que o aluno deva aprender sozinho e que o profesor não tenha responsabilidade no processo (isso seria ridículo). O que me assusta é que o Brasil ainda não acordou para um fato, para mim, óbvio: a sala de aula é um lugar de poder, e as dificuldades pedagógicas que encontro devem-se ao fato de o aluno desejar o conhecimento pronto, mastigado, porque desejam um ditador. A aula de cursinho se tornou paradigma de ensino no Brasil: veja que temos apostilas até para ensino fundamental 1! Aula de apostila é autoritária. Professor de cursinho é ditador, por que dita. E todos se acostumaram ao conhecimento como leis a serem ditadas e não conceitos a serem refletidos e compreendidos no/pelo grupo em sala de aula.

É curioso: ou o Brasil não se tocou que educação é o mais pleno exercício político de cidadania (muito antes do "vota Brasil") ou se tocou sim, e este é o comportamento político que o Brasil deseja: a docilização de mentes e de corpos.

Meu trabalho em sala de aula nas Universidades vem sendo de dois tipos: 1. Ensinar, propor, refletir sobre os conteúdos programáticos que apresento. 2. Deseducá-los frente às posturas pedagógicas que tiveram que engolir: devem tomar a aula para si, devem buscar a leitura e o conhecimento, devem fazer perguntas e refletir sobre nossas propostas, devem ouvir seus colegas e pensar com eles. Quanto a esta segunda parte é curioso: eles sempre esperam lousa, devoram cadernos, amedrontam-se de suas perguntas, desrespeitam as dúvidas dos colegas (inclusive porque eles mesmos às têm!)

Fernanda: você prova o contrário de tudo que acabei de falar. Você e muitos de meus alunos mostram que o aluno deve seguir o mestre para traí-lo, para superá-lo, e que o professor é um dos protagonistas do processo pedagógico (e não um ator em seu monólogo). E, veja, não se trata de classificar em "aluno bom ou aluno ruim", não penso por essa (i)lógica. Almejo diagnosticar quanto um modelo de educação castrou intelectualmente meus alunos. O que eu quero fazer com meus estudantes seria denominado pelas correntes tradicionais e tecnicistas de "deseducação" ou ainda "criação de maus alunos". Não pretendo postular a insolência, (isso não combina com o Budô). Muito pelo contrário: almejo cultivar a alegria, a irreverência e a liberdade intelectual.

Quando citei a frase de Adorno: "o intelectual não arruma cama" e isso pareceu aristocrático, vale ressaltar que, ao menos da maneira que eu vejo, não se trata de supor um intelectual tão bem servido de renda a ponto de poder contratar serviçais para os afazeres domésticos... Significa que o intelectual sacrifica a casa, a cama, a pia repleta de louça, e corre para os textos, para a escrita. Penso na educação como um mecanismo aristocrático de reflexão, o que não quer dizer que as pessoas devam ser aristocratas, mas devem sim, posicionar-se frente ao mundo de modo nobre, requintado, sutil e – por que não?– irônico.

Se prego essa marcialidade samurai que o Rica e a Fernanda aqui me denunciam (e prego mesmo!) não podemos nos esquecer: os samurais eram aristocratas.

Eis o desafio da educação: ser democrática e aristocrata, ser acessível sem ser popularesca, ser profunda sem alienar-se das contingências sociais e políticas. Baudelaire, em meados do XIX, já comentava sobre o paradoxo da condição aristocrática do poeta frente à velocidade do mundo burguês: se nossas auréolas chafurdarem na lama, todos poderão ser poetas?

Penso que não. Ser poeta no mundo contemporâneo (e estendo a reflexão à criatividade necessária ao estudioso) é ter a consciência de que as auréolas sempre chafurdam na lama... os tolos correm para surrupiá-las e, distraídos, saem enlameados. É o poeta que as atira à lama, só para se rir da tolice prosaica. Tira mais uma do bolso, coelho da cartola, senta-se num café, e, de um Haikai, contempla a Samsara.

Talvez estejamos no caminho certo. Rimos aristocraticamente de nossas contigências e desafiamos a mediocridade política neste blog. Eu precisava dos textos de vocês para reconhecer o caminho. Grande parte da vida a gente fica procurando o caminho. Um dia, recebidos os golpes certeiros, descobrimos que já o havíamos escolhido: só nos restava, vivendo, compreendermos nossas escolhas.

Domo Arigatô Gosaimashita.


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sexta-feira, 23 de abril de 2010

Entenda a greve dos professores em SP (4)

Matéria publicada na Folha Online de 22/04/2010, com o título: "Greve de professores foi campanha anti-Serra, diz procurador-geral". – Walter Dos Santos
por SILVIO NAVARRO, do Painel

Parecer da Procuradoria-Geral Eleitoral enviado hoje ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) referenda as denúncias feitas por PSDB e DEM de que a greve organizada pelo sindicato dos professores da rede estadual de São Paulo, em março, teve caráter de "propaganda eleitoral antecipada negativa" contra o pré-candidato tucano à Presidência, José Serra.

"Ao promoverem e financiarem as aludidas manifestações, realizaram uma organizada campanha eleitoral antecipada negativa contra o pré-candidato à Presidência", diz o documento, que leva a assinatura do procurador-geral da República, Roberto Gurgel.

O texto recomenda ao tribunal a aplicação de multa "no valor máximo" pela "gravidade da conduta" da Apeoesp e sua dirigente, Maria Izabel Azevedo Noronha.

O eixo do parecer é que os discursos e faixas utilizados no protesto não fizeram referência à gestão da administração estadual, e sim "à suposta inaptidão de Serra em ocupar o cargo de presidente". Diz ainda que a categoria (professores) é "extremamente influente" aos eleitores.

A procuradoria também rebate a defesa do sindicato, segundo quem o tucano ainda não era oficialmente candidato à época das manifestações --a candidatura de Serra foi lançada no último dia 10. "Já era veiculado em toda a mídia nacional que José Serra era candidato à Presidência pelo PSDB."
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quinta-feira, 22 de abril de 2010

Azevedo: Sobre a entrevista de Dilma Roussef na Band

Texto publicado originalmente na coluna de Reinaldo Azevedo de 21/04/2010, com o título: “A gente tem ainda um minuto e 40 segundos. O que a gente faz agora? Quer cantar?”. O vídeo com a parte final da entrevista de Dilma Roussef, citada na coluna e dada ao programa Brasil Urgente do mesmo dia, foi extraído do site da TV Bandeirantes. – Walter Dos Santos

É…

Estava eu aqui, como a Inês de Castro, de Camões, “posto em sossego!, quando uma amiga avisa pelo MSN: “Dilma está no Datena”. Essa profissão não é bolinho, não! Lá vou eu. Já tinha perdido a primeira parte em que ela se disse devota de Nossa Senhora de Fátima. Como sintetizar a entrevista? Acho que esta fala de Datena diz tudo: “Temos ainda um minuto e quarenta segundos. O que a gente faz? Quer cantar?” Como a petista não tinha mais nada a dizer — e, de fato, tinha passado o tempo todo tentando dizer alguma coisa —, ensaiou: “El día que me quieras”… E soltou mais uns dois versos em “embromacíon“, a versão em espanhol do “embromation“.

Não foi o único momento constrangedor, não, daqueles que causam vergonha alheia. Faltando uns três minutos para o fim do programa, o apresentador mandou ver: “A senhora até agora não me deu a manchete. Diga alguma coisa pra ser manchete”. E ela, com aquela sua descontração natural: “Achei a entrevista com você o máximo!”.

Entrevista de Dilma Roussef ao Brasil Urgente – parte final

Mas nem uma coisa nem outra foram o auge do constrangimento. Alguma coisa combinada nos bastidores não deu certo, e Dilma sofreu um apagão mental no meio da entrevista — espero que a Band mantenha a entrevista em seu site. Datena: “A senhora me falou que ia dizer uma coisa aqui pela primeira vez”. Dilma arregalou os olhos, passou a olhar desesperadamente o vazio em busca de algum auxílio, engrolou palavras sem muito nexo até que achou a idéia luminosa:“Eu quero dizer que eu amo o meu país e que já é muita coisa ter chegado até aqui”. E o apresentador um tanto surpreso com o comportamento basbaque dela: “Mas isso não quer dizer que já esteja bom”. E Dilma: “Não! Lembro sempre a mãe do presidente, que falava: ‘Teime, Lula, teime!’” Lula, Lula, Lula…

Temer
O entrevistador quis saber se Michel Temer (PMDB), presidente da Câmara, é um bom candidato a vice. Com “zero” de entusiasmo, ela disse que era um bom nome. Mas se negou a tratá-lo como o candidato do partido ao cargo. Ocorre que ele É O CANDIDATO do PMDB!

Foi difícil levar a coisa até o fim, como se nota. A fala de Dilma ia se fragmentando e se perdendo em anacolutos, com parênteses dentro de parênteses, onde ela intercalava frases, metendo apostos em apostos… O raciocínio não era um novelo que se desenrolava, mas uma grande embromação. Depois de algum tempo, ninguém entendia nada. E quem conferia alguma inteireza àquele caos de idéias quase claras? Acreditem: Datena!

Dilma tentou explicar o programa “Minha Casa, Minha Vida”. Não conseguiu. O apresentador ajudou: “É para dar moradia digna”. Isso! É para dar moradia digna!!!

Datena indagou o que ela pensava dos ataques (quais?) que FHC lhe teria desferido. Num sinal, talvez, de que a luta do suposto “bem” contra o suposto “mal” esgotou as suas virtudes eleitoreiras, Dilma fugiu da briga e disse apenas que a crítica é natural porque FHC é de um partido de oposição… Foi o seu melhor momento.

Faltam ainda seis meses. Vamos ver o que eles vão fazer agora.

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Azevedo: Sobre a entrevista de José Serra no SBT

Texto publicado originalmente na coluna de Reinaldo Azevedo de 21/04/2010com o título: "Não acreditem em mim; acreditem em vocês". Os vídeos da entrevista de José Serra, citada na coluna e dada ao Jornal do SBT do mesmo dia, foram extraídos do Youtube. – Walter Dos Santos
Como vocês sabem, nunca peço que “acreditem” em mim. O leitor sempre sabe quando estou passando uma informação, quando estou fazendo uma análise e quando estou emitindo uma opinião. Não engano ninguém. Também sabem que tenho lado, o que não quer dizer “ter partido”. Qual? Democracia representativa (só ela!), estado de direito, economia de mercado… E sabem ainda que não flerto com movimentos que, sob o pretexto de lutar pela igualdade, jogam a lei no lixo. Agora ao ponto.

O tucano José Serra também concedeu uma entrevista ao vivo, mais curta, no SBT Brasil, comandado pelo dois-correguense Carlos Nascimento. Creio que também fique na Internet, a exemplo da entrevista de Dilma a Datena, da Band (ver post anterior). Compreende-se, além da estupenda vaidade do presidente, por que o PT insiste em fazer um plebiscito “Lula x FHC”. Quer, a todo custo, impedir o confronto “Serra x Dilma”. E que se note: o governo anterior não tem do que se envergonhar. Ocorre que é mais fácil depredar o passado do que convencer que o futuro do Brasil está com Dilma.

Entrevista de José Serra ao Jornal do SBT - parte 1


Não sei quem vai ganhar as eleições. Falta muito tempo. Mas que o PT não vive o seu melhor momento, isso, creio, até os petistas acham. Já os tucanos fizeram uma excelente largada.

Nascimento perguntou a Serra: “O senhor se propõe a SUBSTITUIR um governo muito bem avaliado. Por que as pessoas devem votar no senhor e não na candidata do governo?”

E Serra:
“Eu não me proponho a SUBSTITUIR o governo Lula, mas a SUCEDER o governo Lula”. E disse o lógico: há coisas que têm de ser preservadas, e há muito a ser melhorado. A resposta, e pouco me importa o que dirá a patrulha, é excelente. Nas democracias, governos se sucedem, e não se trava a luta do bem contra o mal. Eventualmente, faz-se necessário, sim, combater o mal do autoritarismo, que pretende usar as licenças da democracia para se insinuar.

Entrevista de José Serra ao Jornal do SBT - parte 2


Serra não fez média. Afirmou que o MST é um movimento político, que vive de dinheiro público e usa a reforma agrária como pretexto: “Nós queremos uma reforma agrária de verdade, com produção”. E disse que as decisões judiciais — de reintegração de posse — têm de ser cumpridas. Sobre as relações do Brasil com Cuba e Venezuela, observou que o Brasil tem de respeitar a autodeterminação dos países, mas que, nas democracias, não existem pessoas presas por crime de opinião, como há naqueles dois países.

E a política econômica, com metas de inflação e câmbio flutuante, continua? “Continua. Até porque isso vem do governo passado”. Tudo dito, parece-me, com uma sintaxe clara e um discurso coerente.

Mas não acreditem em mim. Acreditem em vocês. Os programas, creio, estarão na Internet daqui a pouco. Vejam, comparem, analisem, escolham. FHC não é candidato. Lula não é candidato. Dilma é candidata. Serra é candidato.
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O candidato X o presidente (1) - Lula e o Bolsa Família


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quarta-feira, 21 de abril de 2010

Estadão: O jogo bruto da candidata

O texto abaixo foi publicado originalmente como editorial do jornal O Estado de São Paulo de 21/04/2010. Ele discute a estratégia petista de tentar colar em José Serra a imagem de "anti-Lula", e de como o oposicionista tem se negado a esse papel – para o desespero de Dilma Roussef. A imagem foi acrescentada. – Walter Dos Santos
Bastaram uns poucos dias do que à legislação eleitoral brasileira apraz qualificar como "pré-campanha" para que a "pré-candidata" Dilma Rousseff deixasse claro como pretende tratar o seu adversário José Serra. Por razões de formação, temperamento e interesse, ela precisa fazer dele um inimigo inconfundivelmente identificado, contra quem, em consequência, possa mover uma guerra sem quartel. As reações agressivas da petista aos primeiros comentários do tucano sobre o governo Lula vêm de uma concepção de combate político fundada na ideia de que os argumentos do outro, não podendo ser ignorados, devem ser convertidos em armas para silenciá-lo e, no limite, aniquilá-lo.

O rombudo estilo pessoal da ex-ministra combina com a tática de terra arrasada que vem adotando. E essa é inseparável da estratégia ditada por Lula de confinar a competição pelo Planalto a um plebiscito ou, como se diz em dialeto petista, a um enfrentamento entre "nós e eles". O Serra de verdade se apresenta como candidato do que se pode chamar "continuança" - um híbrido da continuidade com a mudança. Por isso fala em "fazer mais", não em "fazer o oposto". O mote não deriva apenas da avaliação realista de que investir contra um presidente que flutua nas nuvens da popularidade é suicídio político. Resulta também da convicção de que o Brasil avançou em muitos aspectos por ter Lula sabido usar e expandir a "herança maldita" que lhe tocou.

Mas este Serra - tão à vontade ao elogiar o Bolsa-Família quanto ao criticar o PAC como "uma lista de obras", a maioria das quais "não foi feita" - não se encaixa no papel que o outro lado gostaria que ele desempenhasse. É muito equilíbrio e maturidade para o populismo plebiscitário de Lula, e desconcertante demais para o raciocínio binário da sua escolhida. Eleitoralmente pode ser um perigo: quando, além disso, o ex-governador ainda contrapuser ao "nós e eles" do presidente uma espécie de "eu e ela", jogando a cartada de sua experiência contra o noviciado da rival, isso decerto afetará a transposição de votos do patrono para a apadrinhada.

Se é esperado que uma parcela do eleitorado votará em Dilma apenas por ela ser "a mulher do Lula", outra poderá preferir Serra por ver nele o continuador mais capaz da obra do presidente. Eis por que não é de excluir que a mão pesada da candidata se volte contra si mesma. Não está escrito nas estrelas que o povo responderá amém sempre que ela estigmatizar o oponente como "lobo em pele de cordeiro", cercado de "exterminadores do futuro", para neutralizar o seu reconhecimento do que ele entende ser as conquistas da era Lula. Ou quando o chamar, depreciativamente, "biruta de aeroporto", por ele não fazer o que o PT necessita que faça: atacar em bloco o desempenho do primeiro-companheiro, em vez de separar o joio do trigo.

Já se disse que Serra perdeu para Lula em 2002 porque o tucano representava a continuidade quando o povo queria a mudança. Agora, quando povo quer a continuidade, Lula pretende a todo custo pespegar em Serra a falsa imagem do carbonário que ele próprio foi outrora: contra "tudo isso que está aí". O problema petista é fazer o rótulo colar. (O de Serra, vender a sua continuança.) É um engano preconceituoso achar que a maioria dos eleitores quer ver sangue na campanha. Quer, isso sim, saber quem é quem, em quem pode confiar mais e quem está mais preparado para fazer o que todos prometem - porque não há, no Brasil de hoje, roteiros antagônicos dos caminhos para o desenvolvimento econômico e o progresso social.

Os políticos que entendem de voto sabem que ataques como os que Dilma tem desferido contra Serra podem ricochetear na candidata que irá às urnas pela primeira vez na vida. Não terá sido por outro motivo que Michel Temer, seu provável companheiro de chapa, apressou-se a defender "um grande debate em torno dos problemas do País, não no nível das questões pessoais". Ora, o jogo bruto de Dilma é precisamente interditar esse debate, apelando para estocadas pessoais e a invencionice de que Serra é o anti-Lula.
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Eleições e presídios

Como os guardiões da cultura e da democracia recentemente têm feito campanha contra medidas para efetivar o direito de voto dos presos sem condenação criminal definitiva, vale recomendar o último artigo de Wálter Maierovitch, da Carta Capital.

"Por aqui, levantam-se vozes a apregoar ser 'inviável' a aplicação da feliz resolução do Tribunal Superior Eleitoral, em especial por riscos aos integrantes da seção eleitoral e por conta da coação dos líderes de facções criminosas, que mandam em muitos presídios.

Na verdade, querem sacrificar uma garantia constitucional em face da irresponsabilidade de governos que mantêm a entropia nos presídios, não investem na emenda e não separam os presos provisórios dos demais. Essas desídias governamentais não representam, por evidente, motivo de força maior ou caso fortuito, a impedir o exercício do voto secreto por presos ou por adolescentes internados."

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terça-feira, 20 de abril de 2010

Censurado: Dilma na internet frustra até o PT

Publicado originalmente no blog Censurado em 20/04/2010, com o título: "Dilma estréia na internet, frusta militância e expõe uma verdade: ela não ouve a população". – Walter Dos Santos

Blogueiros que participaram ontem do lançamento do site da ex-ministra Dilma Rousseff na internet manifestaram frustração com suas respostas e criticaram a organização do evento, oferecendo uma amostra das dificuldades que os partidos deverão encontrar ao usar de forma mais intensa a internet na campanha presidencial deste ano. Para inaugurar o site de Dilma, o PT organizou um evento em que a candidata respondeu perguntas gravadas previamente por cinco blogueiros convidados pelo partido. A ex-ministra também respondeu a um torpedo e três perguntas recebidas por email que seus assessores selecionaram durante o evento, que foi transmitido ao vivo no próprio site e durou uma hora.
Do Valor Econômico
[Comentário do Censurado: Essa é para arrebentar. É prova maior que ninguém mais confia em Dilma, nem mesmo dentro do seu próprio staff de campanha – naturalmente também orientados por Lula. Como ela faz um evento para estréia de seu site com participações de internautas previamente selecionadas? Nem os petistas aprovaram. Isso não mostra incompetência para operacionar a internet. Mostra falta de segurança e, o que é mais grave, mostra que a campanha dela vai fugir do debate real. Mostra que ela não está preparada para o confronto, que tem medo do confronto das idéias. Fica fácil responder somente o que é de interesse para resposta.

Eu mesmo fiz diversas perguntas à candidata mas não tive resposta. Quis saber se é verdade que ela esteve envolvida no roubo aos dois milhões de dólares do ex-governador Adhemar de Barros. Perguntei também se é verdade que a substituta dela na Casa Civil é a mesma senhora que gastou dinheiro público produzindo dossiês políticos contra adversários políticos da Dilma. Tive resposta? Não. Vai ver não passei no crivo da equipe de campanha dela. Ou ela leu e decidiu não responder ou sua equipe não repassou a pergunta a ela. Como ela se diz uma democrata, acredito que a segunda hipótese, a da equipe, seja a mais apurada. Sendo assim, parece que a Dilma é cercada pelo mesmo tipo de assessores do presidente Lula: ela só ouve o que é bom. É aquele famoso assessor namorado, sabe? Só elogia.

Não sei se sabem, mas esse é o modo de operar da esquerda há muito, muito tempo. Quando Lenin ainda era o tirano chefe na União Soviética, por volta de 1922, mas estava muito doente, seus assessores imprimiam edições falsas do Pravda (jornal estatal de maior expressão na URSS) que continuam somente boas notícias. Não importava que milhões passassem fome ou frio. O importante era que o líder achasse que estava tudo bem, e na maioria das vezes não estava. Se Lenin soubesse dos milhões passando fome, creio que ele teria mandado todos os assessores à forca e resolveria o problema da fome na URSS (pelo menos é o que penso da imagem humanista pintada pelos comunistas sobre seu líder). Neste caso, os assessores pagaram seus salários com milhões de vidas. Preserva-se o emprego às custas da verdade e da transparência. Pois então, vemos que Lenin fez escola.
]

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Os neocons, os caça-fantasmas

Luiz Carlos Azenha faz, em post recente do seu blogue "vi o mundo", um brevíssimo histórico dos neocons relacionando-os ao Instituto Millenium. Olhem esse trecho:

"Foi um avanço contínuo o dos neocons, que desaguou no controle quase completo do Partido Republicano e da máquina de governo durante o governo de Bush Jr. Grosseiramente, podemos dizer que eles trabalharam pela privatização da política externa e das próprias guerras que pregaram, ora contra os comunistas, ora contra Saddam Hussein, ora contra os islamofascistas, seja lá o que isso for. O importante é criar um inimigo, para justicar a destruição dele.

Abrigados em um emaranhado de think-tanks financiados pelos capitães da indústria, os neocons ocuparam espaço na mídia e disseminaram suas ideias através de seminários e grupos de trabalho paralelos à burocracia oficial. Pode-se dizer que nunca tão poucos, sem um voto sequer, conseguiram tanta influência sobre políticas públicas.

O que nos traz de volta a esse arremedo neocon tardio que é o Instituto Millenium, cujo objetivo central é atender aos interesses da minoria com “complexo de maioria”. Quem está vivo e percebe o que se passa à sua volta perceberá quantas vitórias os neocons brasileiros já obtiveram nos confrontos com o governo Lula através da formulação de crises midiáticas."

Exemplo recente dessas crises midiáticas foi evidentemente o bombardeio ao PNDH, sobretudo no que diz respeito a discussões sobre o controle dos meios de comunicação. Sobre isso pretendo voltar com mais cuidado quando puder. Emblemático foi que, na entrevista com Lula ao Canal Livre, a pergunta a respeito de supostos atentados à liberdade de imprensa foi feita por Boris Casoy, outrora participante do Comando de Caça aos Comunistas (CCC) em São Paulo.

Azenha diz no texto, de passagem, que se inclui entre os que não considera o governo Lula tão de esquerda assim, o que não é nenhum absurdo.

O engraçado é que acusam a existência de uma patrulha ideológica dos petistas, pronta a distorcer a realidade e assassinar a liberdade de expressão, enquanto caçam fantasmas de stalinismo em qualquer projeto mais ousado de mudança. Alguém já disse que, sendo esse pessoal tão esclarecido, certamente não acreditariam em tais fenômenos ectoplásmicos, logo um outro mundo deve mesmo ser possível.

Não consigo ver forma mais otimista de encarar esse novovelho conservadorismo brasuca.

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segunda-feira, 19 de abril de 2010

Nunes: Assim costuma começar o assassinato da liberdade

Texto publicado originalmente na coluna de Augusto Nunes de 19/04/2010. O vídeo com o jingle e a resposta da TV Globo foram acrescentadas. Eis uma amostra clara do chamado "controle social da imprensa" proposto pelo PNDH do governo petista. Eis um remake da perseguição e fechamento da emissora RCTV, em 2007 na Venezuela de Hugo Chaves. Por falar nisso, recomendo artigo presente no site do PSTU que rebate os falsos argumentos usados nessa medida arbitrária do ditadorzinho pseudoesquerdista e amigo do Lula. – Walter Dos Santos
Pressionada pelas milícias do PT, que enxergaram no anúncio uma solerte propaganda subliminar em favor do PSDB, a TV Globo arquivou a peça publicitária que celebra os 45 anos de vida da emissora. Má ideia: animados com o primeiro banimento do número que identifica o partido dos tucanos, os companheiros censores vão decerto reivindicar mais proscrições. Por exemplo: publicar uma nota na coluna social sobre a festa do 45º aniversário de um granfino paulista, ou contar que algum empresário nasceu em 1945, talvez esteja aí a senha para outra sublevação da elite golpista. Então, não pode.


TV Globo – Jingle 45 anos censurado pelo PT de Dilma Roussef


Informar no meio da reportagem policial que o calibre 45 é de uso privativo das Forças Armadas? Também não pode: e se for um sinal em código para militares ultradireitistas sempre à espreita nos quarteis? Baixar em 45% o preço de produtos em liquidação? Não pode: é um modo subreptício de criticar a altitude dos juros. Comemorar o encerramento da guerra de 1939/45? Não pode: é o pretexto para louvar o desempenho das tropas a serviço do imperialismo ianque.


Aberto o precedente, a ordem é disparar em qualquer 45 que se mova, esteja na camiseta do jogador de basquete ou nas mãos do vendedor de bilhetes da Loteria Federal. A oposição pode revidar de duas formas. Uma é declarar guerra ao número do inimigo, começando por exigir a dissolução do Grupo dos 13, o fim das transmissões radiofônicas dos jogos do Treze de Campina Grande e a interdição perpétua de todos os filmes da série Sexta-Feira 13.


Outra é explicar ao eleitorado que é assim, com esses atentados aparentemente desprezíveis, que costuma começar o assassinato da liberdade.
Resposta da assessoria de imprensa da TV Globo, na íntegra, dada à reportagem do jornal Folha de São Paulo:

"O texto do filme em comemoração aos 45 anos da Rede Globo foi criado --comprovadamente-- em novembro do ano passado, quando não existiam nem candidaturas muito menos slogans. Qualquer profissional de comunicação sabe que uma campanha como esta demanda tempo para ser elaborada. Mas a Rede Globo não pretende dar pretexto para ser acusada de ser tendenciosa e está suspendendo a veiculação do filme."

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No, they can't (2) - Lula: cada um usa como quer

Charge de Angeli publicada hoje na Folha, bem a propósito.


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domingo, 18 de abril de 2010

Entrevista de Hobsbawm

Muito interessante a entrevista de Hobsbawm à New Left Review reproduzida pela Folha. Destaco como exemplo o trecho final:

"Pergunta - Se o sr. tivesse que escolher tópicos ou campos ainda inexplorados e que representam desafios importantes para historiadores futuros, quais seriam?

Hobsbawm - O grande problema é um problema muito geral. Segundo padrões paleontológicos, a espécie humana transformou sua existência com velocidade espantosa, mas o ritmo das transformações tem variado tremendamente. Isso claramente indica um controle crescente sobre a natureza, mas não devemos imaginar que sabemos para onde isso nos está conduzindo."



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sábado, 17 de abril de 2010

No, they can't! Ou: o Brasil teria podido mais?

Serra se lançou candidato, e dois pontos se destacam em seu discurso: o slogan "O Brasil pode mais" e a apresentação da imagem de que ele não tem interesse em dividir o país - ao contrário, parece, do que viria fazendo o atual governo (divisões entre pobres e ricos, negros e brancos, etc.). Me pergunto se esses dois eixos não se embananam. De todo jeito, mostram a peculiar situação política do candidato tucano.

Quanto ao lema da campanha, reproduzo trecho de artigo de Rafael Dubeux, do Instituto Alvorada:

"A candidatura do PSDB à Presidência foi lançada sob o slogan 'o Brasil pode mais'. À vista disso, é conveniente indagar se o Brasil teria podido mais se tivéssemos tido presidentes tucanos entre 2003 e 2010 [grifo meu]. É verdade que toda projeção desse tipo, uma espécie de futurologia do passado, está altamente sujeita a erros. O passado, afinal, não pode ser reconstruído. Apesar disso, podemos fazer um exercício. Conto com a participação de vocês para complementar.

É preciso recordar, primeiramente, um tema da moda naqueles tempos (2002): a Alca. Estávamos caminhando para assinar o acordo para liberalizar o comércio nas Américas, mas não o fluxo de pessoas. Mais do que isso: o acordo em discussão anulava as políticas de desenvolvimento brasileiro, já que impunha regras em compras governamentais, propriedade intelectual, serviços, investimentos, etc. (...) Sob governo pessedebista, provavelmente seríamos parte da Alca hoje."

E por aí vai o exercício, que trata de política externa e outros temas. Vale a pena lê-lo e prolongá-lo.

Cito de passagem um dos temas que Rafael propõe: o combate à corrupção. Claro, o "mensalão do DEM" fez, em tempos recentes, com que a oposição adotasse o discurso de que defesa da ética na política não é plataforma de campanha. Ou seja: como não será possível usar o "mensalão do PT" contra Dilma, não pensemos pequeno, e vamos discutir projetos para o país. Ou descobrirão que o financiamento ilegal de campanha por certo não se encontra entre aquilo que "nunca antes na história desse país...". Assim, a ética não será tema de campanha das duas candidaturas hoje mais fortes, mas convém perguntar se o Brasil teria "podido mais" nesse campo caso Serra e/ou Alckmin tivesse(m) sido eleito(s).

Trabalhei um tempo no Ministério Público Federal. Pelo que soube nesse período e pude experimentar no dia a dia - e acho que poucos negariam isso - houve diferenças significativas, de FHC a Lula, em termos de tratamento das instituições encarregadas de investigar e levar ao judiciário casos de corrupção. Quanto ao Ministério Público, isso é notório. A escolha do chefe do Ministério Público da União, o procurador-geral da República, é do presidente. Os outros membros da instituição são independentes, mas ele tem atribuições específicas e de grande importância, como atuar no STF. Só o procurador-geral poderia, por exemplo, ter apresentado a denúncia do "mensalão", que envolveu deputados federais, com direito a foro privilegiado.

Pois bem. Como a lei não obriga o presidente a respeitar a eleição interna feita entre os membros do MP para eleger o procurador-geral, seguir o resultado dessa escolha é uma decisão política, que me parece reveladora do apreço pela democracia e por suas instituições. FHC não seguia os resultados dessa eleição. Seu período foi marcado pela gestão de Geraldo Brindeiro como procurador, quer dizer, "engavetador geral" da República (para quem não lembra, essa era sua alcunha, que dispensa maiores desenvolvimentos). Alguém aí se recorda de algum figurão do governo tucano levado ao banco dos réus do STF na era FHC?

Lula nomeou primeiro como procurador-geral Cláudio Fonteles, mais votado entre seus pares. Foi ele que iniciou a investigação do mensalão no MPF. Terminado seu mandato de dois anos, passou a batata quente para Antonio Fernando, também nomeado por Lula respeitando o resultado da eleição interna. Quem quiser pode ver no site da PGR:

"Por decreto de 29 junho de 2005, do Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva, [Antonio Fernando] foi nomeado Procurador-Geral da República, tomando posse no cargo em 30 de junho de 2005, para um mandato de dois anos. O presidente respeitou a indicação dos membros do Ministério Público: Antonio Fernando venceu a votação realizada pela Associação Nacional dos Procuradores da República e encabeçou lista tríplice enviada ao Presidente. No dia 21 de junho, foi sabatinado pela Comissão de Constituição e Justiça do Senado Federal, que aprovou seu nome por maioria absoluta. No dia 28 de junho, a indicação foi aprovada pelo plenário do Senado. Exerceu o cargo de procurador-geral da República até 28 de Junho de 2009."

Antonio Fernando foi o que de fato ofereceu a denúncia do caso, que ainda tá rolando no STF. E, como se vê pela duração do mandato, ele foi nomeado outra vez para a chefia do MPU em 2007. Ou seja, depois da reeleição de Lula, de a imprensa repetir à exaustão que o procurador qualificara de "organização criminosa" o grupo ligado ao presidente. Após isso tudo, mais uma vez, foi nomeado pelo mesmo Lula, seguindo idêntico critério: respeito à eleição entre os membros do MP. O atual procurador-geral, Roberto Gurgel (que me lembra um pouco Jô Soares) passou por idêntico processo. E, note-se, Gurgel, Antonio Fernando e Cláudio Fonteles pertencem no MPU ao mesmo grupo de pensamento, ao mesmo "partido". Nem por isso foram preteridos e nem chamados de horda por investigarem fatos em nome do interesse público.

Os recentes escândalos de Brasília mostram o que já era evidente: caixa dois de campanha, compra de "apoio" parlamentar - práticas inaceitáveis mesmo, claro - não são exclusividade do governo Lula. O caso do "mensalão" segue vivo porque as instituições funcionaram. E não é só o Ministério Público. A Polícia Federal, responsável pelas investigações que o MP leva ao judiciário, também atuou muito mais. E a Controladoria Geral da União? Sob Waldir Pires, defenestrado quando ministro da Defesa pela classe média que tanto sofria nos aeroportos, a instituição deixou de ser mais uma sigla criada para inglês ver. Me chamava a atenção, na época que trabalhei no MPF, como chegavam relatórios da CGU sobre desvios de verbas federais em municípios nordestinos. Com os dados, era possível denunciar os responsáveis, colocá-los em juízo. É bem verdade que muitas vezes o judiciário não corresponde, mas os casos ao menos ganham exposição, podem levar as pessoas a pedir explicações àqueles em quem votaram.

Enfim, quem garante que, munido de dados corretos, o Ministério Público não pudesse ter qualificado qualquer "sistema de governabilidade" já aplicado no Brasil como algo digno de "organizações criminosas"? Não é típico de organização criminosa combinar resultados de privatizações, ainda mais quando estão em jogo cifras colossais? Comprar votos para que o Congresso aprove uma emenda constitucional que permita a reeleição do governante do dia?

Quanto a mim, acho que o Brasil não teria podido mais em termos de combate à corrupção com Serra ou Alckmin.

Mas o engraçado é que esse slogan reflete também a consciência da campanha de Serra de que ele não pode se colocar como anti-Lula. A aceitação do governo é tanta que a oposição nem pode ser... oposição. Resta que não se trata de dizer que a mudança é possível, como Lula em 2002, ou Obama com seu "Yes, we can". Dizer "O Brasil pode mais" é reconhecer que ele já pôde bastante - apenas não tanto quanto possível. É uma frase típica de candidato à sucessão, não de um opositor!

Não vou entrar no mérito de qualificar essa aprovação - embora ainda queira escrever sobre ideias preconceituosas e de senso comum a respeito da aprovação de Lula no Nordeste, por exemplo. Por ora gostaria apenas de apontar como o slogan "O Brasil pode mais" contradiz a crítica a uma suposta divisão do país em grupos antagônicos.

Isso porque a frase de efeito tem um pressuposto óbvio: Serra não é oposição, não defende a mudança, e sim a continuidade, porque o governo Lula tem níveis de aprovação impressionantes. Eis os dados recentes do Datafolha:


Fonte: http://datafolha.folha.uol.com.br/

Ora, se apenas 4% dos brasileiros consideram o governo Lula ruim ou péssimo, que divisão é essa? Se Serra quiser criar algo ainda mais próximo da unanimidade, e que não seja o bom senso segundo Descartes, ele terá que convencer Chico Buarque a engajar-se em sua campanha.

No, they can't!

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Campbell: Os candidatos a presidente e o Twitter

Texto publicado originalmente no Blog do Campbell em 16/04/2010. – Walter Dos Santos
A ex-Ministra Dilma Rousseff (PT) aderiu ao Twitter no último sábado e até o início da noite de ontem tinha cerca de 27 mil seguidores. Com a chegada dela, todos os principais pré-candidatos à presidência, além de alguns “nanicos” estão no microblog.

O veterano da turma é José Serra, do PSDB, que também é o político mais seguido no Twitter, com mais de 200 mil “followers”. Entra na maioria das vezes na madrugada, fala sobre vários assuntos e muito pouco sobre política. Ainda que seja criticado por só responder aquilo que o interessa, promove alguma interação, o que não é visto em todos os políticos.


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quinta-feira, 15 de abril de 2010

Erratas

Coletivo deste blogue e leitores (?!):

Se o Ricardo Noblat fez uma correção em seu blogue - desculpou-se com Dilma e depois "voltou atrás" -, a Folha de S. Paulo admitiu sua leitura grosseira do discurso da candidata, o que achei, para não perder o ceticismo, o mínimo. O NPTO (http://napraticaateoriaeoutra.org/) noticiou isso hoje e como eu havia comentado em post sobre o movimento confuso do Noblat e acompanho o diário dos Frias, seguem abaixo a "errata", da seção Erramos da Folha de hoje (15/04/2010) e a reportagem na íntegra (de 11/04/2010) em que Dilma, segundo a Folha, afirmou que não fugiu da luta durante o governo ditatorial 1964-1985 no Brasil (grifos meus na reportagem).

Quando o estudante barbudo era apenas um policial, o mundo caiu. E quando uma candidata tem sua fala desvirtuada de forma acintosa e o estrago precisa ser consertado, como fica?

E esses olhos, o que hão de ver?


São Paulo, quinta-feira, 15 de abril de 2010

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Erramos

erramos@uol.com.br

BRASIL (11.ABR, PÁG. A7) Em parte dos exemplares, foi publicado erroneamente que a pré-candidata do PT à Presidência disse, em evento em São Bernardo no último sábado: "Eu não fugi da luta e não deixei o Brasil". A declaração correta, publicada na maior parte dos exemplares, é: "Eu nunca fugi da luta ou me submeti. E, sobretudo, nunca abandonei o barco".


São Paulo, domingo, 11 de abril de 2010

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O texto abaixo contém um Erramos, clique aqui para conferir a correção na versão eletrônica da Folha de S.Paulo.

No ABC, Lula e Dilma rebatem fala de tucano

Em evento marcado às pressas para contrapor lançamento de Serra, pré-candidata do PT diz que não "fugiu" da luta na ditadura

Lula chama ato do PSDB de "festa do nosso adversário", cita defesa que Aécio fez às privatizações e lembra que Obama disse que ele é o cara


Lalo de Almeida /Folha Imagem
O presidente Lula e a pré-candidata do PT em evento no ABC

ANA FLOR
DA REPORTAGEM LOCAL

Em evento marcado de última hora pelo PT para se contrapor ao lançamento da pré-candidatura de José Serra (PSDB), o presidente Lula e adversária do tucano Dilma Rousseff (PT) fizeram ataques duros à oposição, com críticas diretas a Serra e ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
Lula, que chegou quando o ato em São Bernardo do Campo já estava em andamento havia uma hora, mostrou estar a par do que se passava em Brasília.
Ele chamou o evento tucano de "festa do nosso adversário" e chegou a citar uma defesa que o ex-governador Aécio Neves fez, em discurso, às privatizações.
O slogan "o Brasil pode mais", utilizado pelo PSDB, foi citado reiteradas vezes pelo presidente. "Eles falam "O Brasil pode mais". Nós falamos "nós fazemos mais"."
Em seguida, brincou com a semelhança entre a frase e o slogan de campanha do presidente dos EUA, Barack Obama: "Por que não basta copiar o Obama e dizer "nós podemos mais'? Porque o Obama já disse que eu sou o cara", afirmou.
Dilma, que discursou primeiro, enumerou pontos que, disse ela, "não fará de jeito nenhum". Afirmou que não trairá o povo e que a militância do PT nunca a verá "por aí pedindo que esqueçam" o que escreveu.
"Eu não fujo quando a situação fica difícil. Não tenho medo da luta. [...] Nunca abandonei o barco", disse Dilma, em referência ao período da ditadura militar, quando foi para a clandestinidade enquanto Serra, também opositor ao regime, se exilou no Chile.
Logo em seguida, se comprometeu a manter o alto nível da campanha, afirmando que "não apela" e que suas "críticas serão duras, mas serão civilizadas".
Ao citar privatizações, disse "não entregar" seu país. Prometeu respeitar os movimentos sociais e finalizou afirmando que acabou o "tempo dos exterminadores do futuro". No início do discurso, pediu um minuto de silêncio para lembrar as vítimas das enchentes.

Jornais
Lula também criticou a organização do evento por marcar a fala de Dilma só para as 14h. Segundo ele, o discurso "não entraria nos jornais porque aos sábados eles fecham por volta das 11h". E Serra, disse o petista, havia falado nesse horário. O tucano foi outra vez lembrado quando o presidente afirmou que ele pediu ao tucano, então governador, que conversasse pessoalmente com os professores grevistas.
Na saída, questionado sobre punição por antecipação de campanha, o presidente afirmou que é preciso haver regulamentação da lei eleitoral por parte da Justiça e do Congresso, para que os políticos e partidos não fiquem "à mercê da interpretação". E que ele não quis fazer críticas ao Judiciário e que foi mal interpretado.
Oficialmente, o evento foi explicado como o lançamento de uma pesquisa sobre emprego e qualificação profissional. Estava previsto um debate, que acabou não acontecendo -o ato se transformou numa série de discursos de ataque à oposição.
O presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), tocou em temas delicados que o PT procurava evitar no evento, como a redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais, o fator previdenciário e a terceirização.

Leia a íntegra do discurso de Dilma

www.folha.com.br/101002




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