domingo, 30 de maio de 2010

Nordestinos: “aquela coisa de preconceito”

Não conheço direito o programa Legendários, com Marcos Mion, mas achei boa essa reportagem sobre a discriminação contra nordestinos no Rio e em São Paulo.

O cara que reage “Mas é aquela coisa de preconceito, né?” é o que adiante cede frente ao argumento “Pra mim é uma questão de higiene”. Precisa-se mais ou menos desse tanto pra que a maquiagem do politicamente correto desvaneça.

O discurso preconceituoso parece envolver raciocínios assim: foi por mérito próprio que o sudeste se desenvolveu mais do que o nordeste, logo temos mais direito a colher os frutos do desenvolvimento, e os imigrantes não deixam de ser algo como ladrões, ou ao menos invejosos.

Suponhamos que fosse possível nesse caso considerar o crescimento econômico sem a mão de obra barata  do imigrante. Que dizer do restante? Obviamente, tem uma premissa escondida aí, que vale a pena analisar (não briga com o pseudo-filósofo aqui, Cerqueira), a de uma espécie de direito natural à herança do esforço dos antepassados. O sujeito muitas vezes não contribuiu com coisa nenhuma pra esse desenvolvimento de que se orgulha, e se acha muito com razão de usufruir mais de suas benesses porque… nasceu no lugar certo, o que - teses sobre vidas passadas à parte – não costuma depender de empenho individual.

Nas “discussões” sobre as cotas, a medida do desempenho feita pelas provas traveste-se de milimétrica auferição de mérito, não importa de que condições cada candidato partiu. O apego à meritocracia, contudo, relativiza-se tão logo esteja em jogo qualquer perda de privilégios.

Algo disso também pode ser visto no futebol. É claro, os salários são fora da realidade, há todo tipo de maracutaia, etc. Mas em muito da crítica feita às ferraris e mansões dos jogadores, não está também um torcer de nariz por sujeitos “sem classe” estarem por cima? E, digam o que disserem do marketing e dos medalhões, o motivo pra os jogadores brasileiros serem em sua maioria “de origem pobre” é que a seleção, nesse caso, é meritocrática (teses dunguísticas à parte, alguém talvez diria).

Não se trata de incoerência, mas de outra forma de coerência.  Os posicionamentos não precisam combinar-se entre si; importa é não haver contradição entre os interesses e as opiniões, cada uma tomada individualmente.


Share/Bookmark

Nenhum comentário:

LinkWithin

Related Posts with Thumbnails