segunda-feira, 10 de maio de 2010

Mais do mesmo

Que a oposição anda meio sem discurso, qualquer pessoa que freqüente a blogosfera já percebeu. A última de Serra é ótima. Em entrevista à rádio CBN, o candidato do PSDB se definiu “de esquerda”, quem sabe seguindo uma deixa de Caetano Veloso, que, numa sacada genial, viu o que ninguém mais foi capaz.

Talvez seja essa a razão porque algumas das críticas que se tem feito a Dilma tenha esse gosto de comida requentada. (E, percebam, não ignoro que comida requentada tem lá o seu sabor muito peculiar. Eu mesmo tenho uma certa predileção por feijoada dormida, mas isso é outro assunto.)

Lê-se hoje, por exemplo, no blog de Josias de Sousa que

“A oposição pergunta: Que feitos produziu a preferida de Lula para justificar a promoção?

A mesma oposição responde: Dilma ainda não deu ao país nenhuma realização palpável.”

Ignoremos o fato de que o respeitável jornalista encarna tanto a voz que pergunta quanto a que responde. É só mais um exemplo do papel que cabe a parte da mídia nessas eleições. Mais interessante, ao menos para o que pretendo agora, é levantar uma outra questão: a da inexperiência política da candidata do PT – ou do presidente Lula, como se repete a torto e a direito por aí.

Ao ler o blog do Josias, hoje pela manhã, me lembrei imediatamente de Patrícia Daniela, uma amiga do segundo grau. Aqueles eram outros tempos, quando ainda me dava ao trabalho de fazer campanha política abertamente. Pois bem, num desses momentos pré-eleitorais, em meados de 2002, perguntei a Paty o porquê de tamanha resistência a votar em Lula, ao que ela me respondeu: não votaria no então candidato do PT simplesmente porque ela nunca o havia visto governar, portanto não tinha como avaliá-lo.

O argumento não deixa de ter sua validade, mas ele tem lá os seus problemas. Primeiro, havia, sim, uma resistência ao que ela via como a empáfia de um metalúrgico sem formação acadêmica de querer governar a nação. Segundo, e isso eu me lembro de ter falado com ela, se experiência política fosse tão determinante assim, talvez devêssemos votar em ACM, cujo currículo eleitoral era bastante consistente.

Oito anos depois, com todos os erros e acertos de seu mandato, Lula deu provas suficientes de que, embora a experiência política seja importante, não é ela o que determina o sucesso ou o fracasso de um governo. Meus conhecimentos dos meandros da política são irrisórios, é verdade, mas me parece que esse culto à figura do presidente é um tanto pernicioso. É melhor eu me fazer mais claro: não estou dizendo que qualquer um pode ser presidente da república. Estou dizendo que, não sendo um ditador, ninguém governa sozinho. (Talvez nem esse o faça, mas pelo menos encarna a figura do faz-tudo.) Tão importante quanto aquele que é o primeiro mandatário da nação, é a equipe que ele convoca para assessorá-lo, para pôr em andamento um programa político sólido. E todos sabemos que foi exatamente nesse ponto em que o governo Lula mais acertou e mais fracassou.

Assim, meu grande medo em relação a um futuro governo Dilma tem pouco a ver com sua experiência, mas com o espaço que o PMDB dos Temers, dos Calheiros e dos Sarneys vai ter ao seu dispor. Do mesmo modo, temo o que seria um governo Serra, que conta com o apoio de um partido tão nefasto como o ARENA, perdão, PFL, desculpa, DEM. Mas isso não parece incomodar ninguém mais.

As críticas requentas, contudo, não param por aí. Uma outra que me tem tirado mais a paciência do que o meio campo do Vitória é a da radicalização do PT. Em fevereiro desse ano, a Veja levantou a bola:

“Lula logrou conter o ímpeto dos radicais, dando-lhes cargos periféricos e gordas verbas em troca de obediência canina. Dilma, se eleita, conseguirá?”

É impressionante. Quem se lembra da capa da mesma revista, publicada em 23 de outubro de 2002?

Veja

Antes era o preço pelo silêncio. Hoje, a inabilidade política de Dilma para controlar a radicalidade do partido. Oito anos de diferença, e a retórica do medo persiste. Uma idéia infundada, que alimenta o discursos de alguns dos setores mais conservadores do país. Me refiro, mais especificamente, a Reinaldo de Azevedo, com muito mais leitores, e a Walter, nosso companheiro de blogue, que não se cansa de nos mostrar as mazelas de um regime esquerdopata. E, aqui, tudo, absolutamente tudo o que o governo faz nada mais é do que uma manifestação de sua tendência stalinista e antidemocrática. Tendência essa que apenas alguns poucos eleitos têm a capacidade de perceber e a obrigação de nos fazer ver.

Pois bem, na ausência de um discurso que lhe seja próprio – em parte porque a pseudoesquerda, nas palavras sempre sábias de Josias de Sousa, lhe roubou uma parte considerável do seu programa político –, a direita brasileira tem requentado algumas das suas críticas a Lula. Espero, sinceramente, que o alcance dessas críticas seja o mesmo de 2002: a mesma lata de lixo de onde elas vieram.


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