Vi o vídeo dos estudantes da Poli, sobre a Greve da USP: lastimável.
Mas... lastimável para ambos os lados: os que apoiam e os que criticam a greve. No caso destes últimos, me parece óbvio: os meninos simplesmente são surdos aos berros de um grupo que luta por suas condições salariais. Posam de "pobres meninos bonzinhos": "queremos estudar e quem faz barulho é vagabundo". E me pergunto: até quando essa crítica simplista? E o pior é que no Brasil (do lado de cá e de lá) é tudo, sempre, crítica simplista. Fica complicado compreender o ser humano quando um texto (cinematográfico ou escrito) parte do pressuposto que existe "inocência" em qualquer postura política. Algo que soa como: "Nós, coitadinhos e estudiosos, fomos atropelados pela plebe ignara, pelo 'estéril turbilhão da rua' e queríamos, beneditinos, lavrar nossos sacrossantos saberes como quem '...no sossego/Trabalha e teima e lima e sofre e sua'" (ao menos estivessem citando, mesmo, o grande Bilac!..rs).
Mas quero pegar o problema na curva. Quero ir para debaixo da pele. Garimpando tramas noturnas...
Por que narrativas (como o filme dos politécnicos) fazem tanto sucesso? Percebam que ele é do mesmo gênero do vídeo (também aqui neste blog) contra os professores grevistas. A premissa básica é: "nosso mundo está em paz... e vem os baderneiros que só querem atrapalhar e fazer política. São ideológicos"
No nosso país, de Lombroso a Reinaldo Azevedo (e olha eu soltando minhas farpinhas...rs), isso sem falar da mentalidade casa-grande, fomos condicionados a tomar movimento social como "caso de polícia", "coisa de vagabundo". Não era chegada a hora de mudarmos a retórica, as estratégias e as formas, se o que queremos é, realmente, comunicar?
Que tu queria? Tu chega com um trio elétrico gritando palavras de ordem, no prédio da Poli em dia de prova (e tu sabes que os caras fazem o gênero "genrinho que a sogra pediu prá Deus").... Que você esperava? Que o espírito santo do barrete frígio os iluminasse? Que eles fossem possuídos pela pomba-gira revolucionária de Robespierre? Não é a esquerda um tanto romântica, ou ingênua, ou inábil demais? (E, aqui, chamo de esquerda todos que se preocupam com o bem estar social).
Na fala de um dos pseudo-jornalistas "fiotão criado com vó" (eu adoro esse termo...rs) ele usou palavra "anacrônico". Sobre isso, penso:
1. historiador que sou, já sinto vontade de dar pitaco.
2. isso me fez feliz, porque não esperava ouvir dele o sagrado termo historiográfico.
3. me deixou preocupado: será que ele sabe o que fazer com a palavra?
E, aikidoista que sou, penso em botar para circular a energia desferida, transformando o combate em debate, o golpe em contragolpe, a torção ideológica em alongamento intelectual:
Não quero transformar as esquerdas em "picolé de chuchu", mas não será mesmo a hora de revermos as estratégias do combate? Nossa sociedade é carente de formação política, de códigos de erudição política. As esquerdas acreditamos mesmo que nossas formas agressivas vão mesmo convencer alguém ou ainda alertar alguém de algo?
Nossa sociedade não é o paraíso, mas a esquerda não teima nas mesmas estratégias usadas e re-usadas da década de 70, quando vivíamos a ditadura militar? Um exemplo, radical, para compreendermos bem: as falas do PCO, do PSTU, não parecem ingênuas e bobas? Sem ofensas meus caros, mas "contra burguês, vote 16", não parece brincadeira? Não parece vinheta do desenho "Pink e Cérebro"?
Quantas vezes participei de passeatas, invasão da prefeitura do campus da USP (Ribeirão Preto), e não via slogans bobos como este. Na época, mesmo totalmente romântico, eu pensava: "Putz... Mas isso queima o filme, não"?
Eu sei que alguns podem falar: "lá vem o Fábio, o esteta". Mas a forma das coisas importa... "as palavras e as coisas"...rs
Anos atrás, vi na TV a Xuxa com uma boina escrito "Chê". Tempo depois, o mesmo Chê apareceu estampado no biquini da deusa Gisele Bündchen. Marx virou pop. O camarada Rodrigo desconfia (e eu também) que Marx não queria ser tão pop assim (ao menos não com essa "forma").
Não os da Poli. Mas existem outros engenheiros que bem o sabem: "O pop não poupa ninguém!"
Mas... lastimável para ambos os lados: os que apoiam e os que criticam a greve. No caso destes últimos, me parece óbvio: os meninos simplesmente são surdos aos berros de um grupo que luta por suas condições salariais. Posam de "pobres meninos bonzinhos": "queremos estudar e quem faz barulho é vagabundo". E me pergunto: até quando essa crítica simplista? E o pior é que no Brasil (do lado de cá e de lá) é tudo, sempre, crítica simplista. Fica complicado compreender o ser humano quando um texto (cinematográfico ou escrito) parte do pressuposto que existe "inocência" em qualquer postura política. Algo que soa como: "Nós, coitadinhos e estudiosos, fomos atropelados pela plebe ignara, pelo 'estéril turbilhão da rua' e queríamos, beneditinos, lavrar nossos sacrossantos saberes como quem '...no sossego/Trabalha e teima e lima e sofre e sua'" (ao menos estivessem citando, mesmo, o grande Bilac!..rs).
Mas quero pegar o problema na curva. Quero ir para debaixo da pele. Garimpando tramas noturnas...
Por que narrativas (como o filme dos politécnicos) fazem tanto sucesso? Percebam que ele é do mesmo gênero do vídeo (também aqui neste blog) contra os professores grevistas. A premissa básica é: "nosso mundo está em paz... e vem os baderneiros que só querem atrapalhar e fazer política. São ideológicos"
No nosso país, de Lombroso a Reinaldo Azevedo (e olha eu soltando minhas farpinhas...rs), isso sem falar da mentalidade casa-grande, fomos condicionados a tomar movimento social como "caso de polícia", "coisa de vagabundo". Não era chegada a hora de mudarmos a retórica, as estratégias e as formas, se o que queremos é, realmente, comunicar?
Que tu queria? Tu chega com um trio elétrico gritando palavras de ordem, no prédio da Poli em dia de prova (e tu sabes que os caras fazem o gênero "genrinho que a sogra pediu prá Deus").... Que você esperava? Que o espírito santo do barrete frígio os iluminasse? Que eles fossem possuídos pela pomba-gira revolucionária de Robespierre? Não é a esquerda um tanto romântica, ou ingênua, ou inábil demais? (E, aqui, chamo de esquerda todos que se preocupam com o bem estar social).
Na fala de um dos pseudo-jornalistas "fiotão criado com vó" (eu adoro esse termo...rs) ele usou palavra "anacrônico". Sobre isso, penso:
1. historiador que sou, já sinto vontade de dar pitaco.
2. isso me fez feliz, porque não esperava ouvir dele o sagrado termo historiográfico.
3. me deixou preocupado: será que ele sabe o que fazer com a palavra?
E, aikidoista que sou, penso em botar para circular a energia desferida, transformando o combate em debate, o golpe em contragolpe, a torção ideológica em alongamento intelectual:
Não quero transformar as esquerdas em "picolé de chuchu", mas não será mesmo a hora de revermos as estratégias do combate? Nossa sociedade é carente de formação política, de códigos de erudição política. As esquerdas acreditamos mesmo que nossas formas agressivas vão mesmo convencer alguém ou ainda alertar alguém de algo?
Nossa sociedade não é o paraíso, mas a esquerda não teima nas mesmas estratégias usadas e re-usadas da década de 70, quando vivíamos a ditadura militar? Um exemplo, radical, para compreendermos bem: as falas do PCO, do PSTU, não parecem ingênuas e bobas? Sem ofensas meus caros, mas "contra burguês, vote 16", não parece brincadeira? Não parece vinheta do desenho "Pink e Cérebro"?
Quantas vezes participei de passeatas, invasão da prefeitura do campus da USP (Ribeirão Preto), e não via slogans bobos como este. Na época, mesmo totalmente romântico, eu pensava: "Putz... Mas isso queima o filme, não"?
Eu sei que alguns podem falar: "lá vem o Fábio, o esteta". Mas a forma das coisas importa... "as palavras e as coisas"...rs
Anos atrás, vi na TV a Xuxa com uma boina escrito "Chê". Tempo depois, o mesmo Chê apareceu estampado no biquini da deusa Gisele Bündchen. Marx virou pop. O camarada Rodrigo desconfia (e eu também) que Marx não queria ser tão pop assim (ao menos não com essa "forma").
Não os da Poli. Mas existem outros engenheiros que bem o sabem: "O pop não poupa ninguém!"
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