sábado, 27 de março de 2010

Vídeo Show, Datafolha e Folha


Desde garoto, eu gosto daquele programa, o Vídeo Show (só de evocá-lo, já vem a musiquinha na cabeça, tan-tan//tan-tan//tan-tan//tan-tan-tan!!). Ele tinha, não sei se tem ainda hoje, eu era telespectador mais assíduo, aquele bloco chamado "Túnel do tempo", em que uma novela, uma carinha fofa, um galanzão, eram relembrados... "e isso foi há quinze anos". Tinha também (esse era meu preferido) o "Falha nossa". Cuidava de mostrar os erros e trapalhadas involuntárias das gravações de novelas e/ou minisséries. Atores que tropeçavam no tapete, ou no fio de alguma câmera ao entrarem em cena, por exemplo. Ou, mesmo, quando tropeçavam na própria língua ao darem entrada em seu texto. Francisco Cuoco era o máximo nessas horas! "Por que você não disse antes que estava "gráuvida"? "Opa, errei!!" "Corta!" Tropeçar na língua: gosto da expressão. Acho que ela contém uma sinceridade incrível, de que a atividade enunciativa, fato histórico que é, não está isenta - à guisa de todo fato histórico - de percalços, atritos e redimensionamentos inerentes à sua própria condição. Seres simbólicos que somos, vamos acrescentando camadas de (re)significação à nossa práxis, à qual se inclui a linguística, corrigindo nossos erros, e assim produzindo sentidos.

Quando aos 17 anos descobri a Pragmática da Comunicação Humana, do Paul Watzlawick, a primeira coisa que me veio à cabeça foi o Vídeo Show. Watzlawick argumenta acerca da natureza retro-alimentativa dos processos interacionais humanos. Sempre precisamos de mecanismos de checagem, de confirmação por parte do outro, para assegurar que o sentido que estamos em vias de construir vai sendo incorporado pelo outro. Está entendendo? Você lembra quando falamos que... Deixa eu ver se me explicopra entendermos melhor...Watzlawick chama isso de feedback comunicacional. Quanta alegria senti ao ter um rótulo acadêmico - uma categoria analítica! - para pensar o Vídeo Show, programa cuja função é ser uma espécie de grande feedback da Rede Globo vis à vis seus programas de entretenimento.

Olhei a Folha de S. Paulo de hoje. Enganaram-se os que pensavam que ela - o grupo Folha como um todo - desistira da campanha em prol de José Serra. Vejam sua manchete da capa: "Serra volta a crescer; Dilma estaciona". Como "volta a crescer" se segundo os últimos CNT-Census, Ibope, CNI e mesmo o Datafolha dos meses de dezembro, janeiro e fevereiro ele só tinha perdido pontos? OK, acho interessante que a candidata Dilma Rousseff não tenha uma ascensão alencariana ("há anos raiou no céu fluminense uma nova estrela", hahaha), dado que uma candidatura com um projeto político precisa de discussão, debate, amadurecimento, idas e vindas. Tropeços (mesmo os da língua). Mas "volta" pressupõe retomada de uma trajetória, o que não era o caso. O candidato José Serra havia mantido-se estável (estacionado) nos 35% de intenções de voto, segundo os supracitados institutos de pesquisa.

Não contente com a leitura apenas da capa, fui ao texto. Não comento o título, deixo para vocês. Eis que vejo que no mesmo não consta (não consta ou está omitido?) em quais cidades brasileiras e quantos eleitores foram ouvidos nessa versão da pesquisa Datafolha - vejam o texto abaixo. Ressalta-se apenas que a pesquisa foi feita nos dias 25 e 26 deste mês. Resta claro, senhoras e senhores: antes de ontem e ontem. E publicada na própria Folha de S. Paulo hoje e já comentada por seus colunistas da página A2 hoje (ver post abaixo)!!! É intrigante constatar isto. Houve tempo o suficiente para arregimentar e distribuir pesquisadores em território nacional, coletar-lhes os dados, e publicar o texto? Eleitores de que faixa etária? De quais outras UF's?

Apresento dois outros textos do jornal. No primeiro, constam as oscilações dos candidatos no Sul, no Sudeste, no Nordeste, etc. No segundo, a análise do diretor geral do Datafolha, Mauro Paulino, das oscilações.

Isso, porém, não invalida minhas perguntas: a pesquisa foi feita nos dias 25 e 26 deste mês,antes de ontem e ontem, e já publicada na própria Folha de S. Paulo hoje e já comentada por seus colunistas da página A2 hoje. É incrível a celeridade com que seus colunistas (cito o Fernando de Barros e Silva) comentam as pesquisas na Folha que a própria Folha faz. Dilma é candidata sem conteúdo, por isso está estagnada (ver post abaixo) É incrível a Folha publicar uma pesquisa no dia imediatamente após a conclusão desta.

Ex estudande de jornalismo que sou, lembro de ter aprendido que as edições dominicais são as mais rentáveis. E as mais lidas. Por que a Folha não publica no domingo a pesquisa? Ela teria o tempo que reclamo para produzir seus textos (resta agora saber o que será publicado no domingo referente ao assunto), e, certamente, boa vendagem da notícia.

Sei não, mas eu fico com o Video Show, a forma como produz feedback para a Globo é melhor do que como o Datafolha faz à Folha. Resta saber se essa manchete de hoje entrará para o "Túnel do tempo da história" (não pude evitar o trocadalho e o clichê, perdão!!!!) como um tropeço de língua da Folha.


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