Reduzir a greve do professores da rede estadual de São Paulo a suas motivações eleitorais poderia até não significar um questionamento das reivindicações dos grevistas. Isso muda de figura quando, como no texto de Reinaldo Azevedo, há tanto esforço para defender as ações do governo Serra na educação, à custa de algum malabarismo lógico e bastante desonestidade na apresentação de dados. Por isso, admitindo que haveria motivações eleitorais na greve, salientei que o texto do blogueiro da Veja também as tinha.
Talvez seja então o caso de discutirmos: 1) em que medida as motivações eleitorais comprometem a incursão em debates públicos; e 2) se é possível, e como seria possível, que algumas intervenções se deem a salvo dos interesses e paixões que fariam parte dos posicionamentos políticos, já que essa possibilidade é claramente um pressuposto de críticas como aquela que diz ser eleitoreira a greve dos professores.
Sim, pois muitas vezes surge, no bojo das discussões, um súbito interesse reflexivo sobre a própria natureza delas. Aprendemos então que um debate pode ser tomado como campo de batalha, em que cada contendor só almeja sua vitória, ou como a busca honesta do verdadeiro por meio de um exame racional. Oposições como essa obviamente remetem àquelas entre retórica e filosofia, opinião interessada e verdade. Seja no senso comum esclarecido, seja em ambiente acadêmico, difícil é vermos hoje alguém defender, sem ressalvas e torneios discursivos, a verdade, a razão, como separadas da opinião, do interesse.
Isso, contudo, não impede que pretensões de isenção e racionalidade apareçam, também, como instrumento de batalha. E por toda parte veem-se acusações de que o discurso alheio é interessado em poder, em dinheiro, em vaidade. Além disso, enquanto no discurso chama-se à temperança e ao razoável, na prática empregam-se recursos dignos de "A Arte de ter razão", como o de atacar algo diferente daquilo que foi dito pelo "oponente".
Rodrigo sustentou que há, na caracterização dos grevistas como "massa de manobra" e adjacências, traços da defesa de um individualismo radical característico do nosso liberalismo jabuticaba, o qual já foi capaz de, ao mesmo tempo, apresentar-se como liberal e escravista. Como diria Tom Jobim, o Brasil não é para amadores. Nem para filólogos profissionais, aparentemente. Eis que as aparências enganam, e vemos, na etimologia do termo liberal, não só um "relativo a liberdade", mas também "que é de boa família, bem educado, nobre; bem disposto, decente, decoroso; bom; liberal, generoso" (tá lá no Houaiss). A bem da verdade, pela convivência de ideais os mais diversos com a escravidão, não somos tão especiais assim, como mostra a história. Mas me desvio...
Eu me pergunto se essa afirmação de liberdades individuais seletivas - e ser seleto é uma questão de classe - não se irmana justamente com a defesa de uma esfera de discussão desinteressada, da qual estariam obviamente excluídos aqueles inaptos a despir-se dos seus interesses e raciocinar como anjos.
Quem seriam esses incapacitados? Um vídeo de muito sucesso no youtube produzido por alunos da Poli a respeito de grevistas da Usp talvez nos traga indícios. Peço que ouçam a leitura que fazem do "jornaleco" (ou algo assim) do sindicato de servidores, que ocorre mais ou menos a partir de 10:30.
Talvez seja então o caso de discutirmos: 1) em que medida as motivações eleitorais comprometem a incursão em debates públicos; e 2) se é possível, e como seria possível, que algumas intervenções se deem a salvo dos interesses e paixões que fariam parte dos posicionamentos políticos, já que essa possibilidade é claramente um pressuposto de críticas como aquela que diz ser eleitoreira a greve dos professores.
Sim, pois muitas vezes surge, no bojo das discussões, um súbito interesse reflexivo sobre a própria natureza delas. Aprendemos então que um debate pode ser tomado como campo de batalha, em que cada contendor só almeja sua vitória, ou como a busca honesta do verdadeiro por meio de um exame racional. Oposições como essa obviamente remetem àquelas entre retórica e filosofia, opinião interessada e verdade. Seja no senso comum esclarecido, seja em ambiente acadêmico, difícil é vermos hoje alguém defender, sem ressalvas e torneios discursivos, a verdade, a razão, como separadas da opinião, do interesse.
Isso, contudo, não impede que pretensões de isenção e racionalidade apareçam, também, como instrumento de batalha. E por toda parte veem-se acusações de que o discurso alheio é interessado em poder, em dinheiro, em vaidade. Além disso, enquanto no discurso chama-se à temperança e ao razoável, na prática empregam-se recursos dignos de "A Arte de ter razão", como o de atacar algo diferente daquilo que foi dito pelo "oponente".
Rodrigo sustentou que há, na caracterização dos grevistas como "massa de manobra" e adjacências, traços da defesa de um individualismo radical característico do nosso liberalismo jabuticaba, o qual já foi capaz de, ao mesmo tempo, apresentar-se como liberal e escravista. Como diria Tom Jobim, o Brasil não é para amadores. Nem para filólogos profissionais, aparentemente. Eis que as aparências enganam, e vemos, na etimologia do termo liberal, não só um "relativo a liberdade", mas também "que é de boa família, bem educado, nobre; bem disposto, decente, decoroso; bom; liberal, generoso" (tá lá no Houaiss). A bem da verdade, pela convivência de ideais os mais diversos com a escravidão, não somos tão especiais assim, como mostra a história. Mas me desvio...
Eu me pergunto se essa afirmação de liberdades individuais seletivas - e ser seleto é uma questão de classe - não se irmana justamente com a defesa de uma esfera de discussão desinteressada, da qual estariam obviamente excluídos aqueles inaptos a despir-se dos seus interesses e raciocinar como anjos.
Quem seriam esses incapacitados? Um vídeo de muito sucesso no youtube produzido por alunos da Poli a respeito de grevistas da Usp talvez nos traga indícios. Peço que ouçam a leitura que fazem do "jornaleco" (ou algo assim) do sindicato de servidores, que ocorre mais ou menos a partir de 10:30.
Reconheceram o sotaque? Pois é, além de comunistas, nordestinos. A leitura dos comentários é também um bocado elucidativa: "Comunista bom é comunista morto."; "esquerdistas bichas comedores de crianças".
Não, não afirmo que esse é o nível de todos os que questionam, quer a greve dos professores, quer as suas justificativas, nem pretendo criar outro campo de legitimidade discursiva só para pôr à margem aqueles de quem discordo. Mas fica a sugestão do segundo parágrafo, com essas reflexões iniciais, algo irresponsáveis.
Não, não afirmo que esse é o nível de todos os que questionam, quer a greve dos professores, quer as suas justificativas, nem pretendo criar outro campo de legitimidade discursiva só para pôr à margem aqueles de quem discordo. Mas fica a sugestão do segundo parágrafo, com essas reflexões iniciais, algo irresponsáveis.
Um comentário:
PRA DEFENDER ESSE TIPO DE GENTE SÓ PODE MESMO SER ALGUÉM Q NÃO TRABALHA OU TEM UM EMPREGUINHO PÚBLICO QUALQUER, CONTINUANDO ASSIM O PAÍS VAI LONGE MESMO, NÃO TÃO VENDO QUE É TUDO MASSA DE MANOBRA DO PT!
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